presos fazem teatro

Montagem teatral criada e encenada por presos ganha Menção Honrosa em festival de teatro

A montagem teatral “Crime e Castigo”, criada e encenada por apenados por complexo penitenciário de Maringá com base no clássico homônimo de Fiódor Dostoiévski, foi apresentada em várias ocasiões em Maringá e em festivais de teatro em outras cidades paranaenses e encerra a temporada recebendo Menção Honrosa do Festival de Teatro de Pinhais, um reconhecimento considerável levando-se em conta que os participantes não tinham, antes, envolvimento com as artes cênicas.

 

Para o diretor Adauto Silva, essa Menção é um grande reconhecimento, especialmente vindo de um festival conceituado, como é o caso do de Pinhais.

 

 

Criação a partir da leitura

 

O “Crime e Castigo” dos apenados é uma criação livre, uma releitura da obra de Dostoiévski, mas conserva como fio condutor o drama psicológico de quem carrega uma culpa que jamais terá reparação. É a dor do arrependimento em cena, condição que é reforçada pelo fato de ter apenas um ator no palco, que fala mais mais si mesmo do que para o público. Onde foi apresentada, a montagem dos apenados de Maringá arrancou aplausos, elogios e debates.

 

A peça é parte de um projeto maior lançado no primeiro semestre pela Polícia Penal do Paraná (Deppen) com base na leitura do clássico de Dostoiévski, uma obra que fala com profundidade a pessoas que estão privadas da liberdade. O projeto consiste em leitura, debate e elaboração de trabalhos inspirados na história e os presos, além da ocupação e ganharem conhecimento e cultura, ainda são beneficiados pela remição de pena pela leitura.

 

Do projeto surgiram textos em prosa e em versos, reescritas e pinturas, além do monólogo, que foi escrito, ensaiado e montado por dois apenados e professores do sistema prisional, sob a orientação dos diretores Adauto da Silva e Marco Antonio Garbellini.

 

Primeiramente, “Crime e Castigo” foi encenado para outros apenados na Casa de Custódia de Maringá (CCM), Colônia Penal e Penitenciária Estadual de Maringá. Depois, transpôs os muros da prisão e chegou ao Teatro Barracão, encenado para pessoas da comunidade maringaense, houve uma apresentação muito aplaudida durante a Festa Literária Internacional de Maringá, a FLIM, e outra durante o 20º Fetacam, o prestigiado Festival de Teatro de Campo Mourão, que recebe montagens e artistas de todo o Brasil.

 

Encerrando o mês de outubro, foi a vez de “Crime e Castigo” ser mostrada no Festival de Teatro de Pinhais, onde recebeu Menção Honrosa por decisão unânime dos jurados.

 

 

“Crime e Castigo” tem diretor premiado

 

“Boa parte do público assiste a peça e não sabe muito bem como se deu o processo e quem são as pessoas que estão realizando o trabalho. Geralmente, quando temos debate, as pessoas ficam surpresas por saberem que esse projeto nasceu dentro do sistema prisional e que os atores nunca tinham feito teatro”, destaca o diretor e Marco Antonio Garbellini. Ele é uma das poucas pessoas do grupo criador que já tem experiência com teatro e , no ano passado, participou do festival de Pinhais com o projeto “Memórias de Aninha”, inspirado na obra de Cora Coralina, quando recebeu a indicação de Melhor Espetáculo, Melhor Direção e Melhor Técnica, recebendo assim o prêmio de Melhor Diretor.

Menção Honrosa

Marco Antonio Garbelini, um dos diretores da peça Foto: Arquivo

 

 

“A qualidade artística, tanto da dramaturgia, quanto da direção do espetáculo, como a execução realizada pelos atores, são elementos de encantamento apontado por parte da audiência, durante os debates”, completa o diretor Adauto Silva.

 

Embora no palco esteja apenas um ator e, no início, um narrador, para chegar a esse ponto há o envolvimento de uma grande equipe, onde estão os diretores Adauto da Silva e Marco Garbellini, as professoras que adaptaram o texto Gislaine Rodrigues e Vania Rossi e os atores Claudeir Fidélis e Rogério Marco Fonseca. Todos se confessam surpresos pela maneira como o projeto vem sendo recebido pela classe teatral e pelo público em geral.

 

 

“Crime e Castigo” cumpre seu papel

 

“Essa Menção Honrosa vem somar-se a muitas outras alegrias que essa peça teatral nos trouxe no decorrer deste ano”, diz o diretor regional da Polícia Penal, Júlio César Vicente Franco. Segundo ele, “é o coroamento de um projeto que foi elaborado para contribuir no processo de ressocialização de presos e hoje vemos pessoas do sistema prisional sendo aplaudidas, reconhecidas e ainda participaram de debates com os amantes do teatro. Sem dúvida alguma, o “Crime e Castigo” adaptado, montado e encenado por pessoas do sistema prisional cumpre seu objetivo e é mais um passo para que possamos devolver à sociedade pessoas preparadas para convivência, pessoas muito melhores do que quando chegaram aqui”.

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