Um ano após arrancar aplausos em várias apresentações e até uma Menção Honrosa em um festival de teatro de âmbito estadual com uma montagem baseada em “Crime e Castigo”, de Fiódor Dostoiévski, o ator Claudeir Fidelis volta ao palco com novo monólogo, também baseado em um clássico da literatura russa: “A Morte de Ivan Ilitch”, de Leon Tolstoi.
O monólogo, que estreou nesta quarta-feira, 5, no Teatro Barracão Paulo Mantovani, tem várias apresentações programadas para os próximos dias e não está descartada a participação em festivais de teatro no Paraná. Talvez a montagem não ganhasse tanta importância se o ator não estivesse cumprindo pena em uma penitenciária.
A montagem encenada por Claudeir Fidelis é mais uma etapa de um projeto especial de leitura que o Departamento de Polícia Penal do Paraná (Deppen) propôs aos apenados dentro do programa de Remição pela Leitura, que faz parte do trabalho de ressocialização de presos. O projeto especial, iniciado em fevereiro do ano passado, começou com a leitura de “Crime e Castigo”, em que o personagem principal vive situação bastante parecida com a de quem cumpre pena em penitenciárias.
Obra de 150 anos continua atual
A escolha por “A Morte de Ivan Ilitch” foi do próprio Fidelis, que leu a obra-prima de Tolstoi, que critica as convenções familistas e as aparências sociais, a superficialidade e a hipocrisia da alta sociedade, e considerou que ela fala do que ele gostaria de falar.
“Me identifiquei com este livro logo na primeira leitura, mas o li outras vezes e ainda procurei a análise de pessoas entendidas em literatura”, disse o homem que cumpre pena na Colônia Penal Industrial de Maringá – Unidade de Progressão (CPIM-UP) e que há um ano trocou a cela pelo palco do Teatro Barracão junto com Rogério Marco Fonseca na montagem baseada em “Crime e Castigo”.
Embora “A monte de Ivan Ilitch” tenha sido escrita por volta de 1870, sua temática é bastante atual e Fidelis achou que o público se identificaria com a contemporaneidade do monólogo. “Tolsoi escreveu em terceira pessoa, mas passei a adaptação para primeira pessoa para falar mais diretamente ao público”.
Todo o trabalho de elaboração de texto, ensaios, cenografia, criação de figurino, trilha sonora e maquiagem ocoreu na Colônia Penal e Fidelis contou com o mesmo time da montagem do ano passado: direção de Adauto Silva e Marco Antonio Garbellini, com apoio do Conselho da Comunidade de Execuções Penais, Ceebja Tomires Carvalho, do juiz da Vara de Execuções Penais e da direção da CPIM-UP.
Arte como projeto de ressocialização
Pessoas que não têm relação direta com a Polícia Penal, também aderiram ao projeto como voluntários, como é o caso do designer Lucas Nunes, que fez todo o trabalho de identificação visual, a pequena Laura, que emprestou sua voz como consciência do protagonista, interpretado por seu avô, e o servidor municipal Luiz Carlos Locatelli, que usou sua experiência na iluminação de espetáculos de teatro, dança, shows em geral para criar e executar a iluminação do trabalho nascido em uma penitenciária.
“Toda pessoa que está no sistema prisional um dia vai sair, vai voltar à comunidade.
A Polícia Penal do Paraná está empenhada para que, ao sair, o apenado seja muito melhor do que aquele que recebemos. Por isso, temos vários projetos para ressocialização e tratamento penal, que além de cumprir seu intuito legal, trazem relevância social e melhoram diretamente a vida das pessoas”, diz o diretor da Colônia Penal Industrial de Maringá, Julio Cesar Vicente França. “A leitura de clássicos da literatura e criação de trabalhos a partir dessas leituras estão rendendo bons resultados, como é o caso dessa montagem teatral”.