Joel Dantas, um jeito de ver o mundo com arte e paixão

RAFAEL PINTO DONADIO

Publicada em O Diário

Amor pelo violão desde que começou a andar, paixão pela fotografia desde os tempos de rebobinar filmes, fazer letras para músicas conhecidas, depois para as que ele próprio fazia ao violão, um pouco de canto, de conto, de crônica e muito de pintura, arte que o acompanhava desde cedo, mas ganhou mais espaço na vida da maturidade, depois da aposentadoria.

Qualquer um que passe pelas portas do apartamento 104, localizado em um conjunto de prédios do Jardim Novo Horizonte, em Maringá, percebe que está entrando na casa de um artista. Do chão ao teto da sala central, as paredes estão forradas de retratos, borboletas, cachorros, paisagens e alguns desenhos abstratos. Uns feitos a lápis, outros com tinta óleo, aquarela, acrílico, colagem de papel e mosaicos. E se não fosse a grande janela com vista para o prédio vizinho, com certeza teriam mais e mais quadros.

O apartamento é de Joel Dantas, 57 anos, bancário aposentado do Banco do Brasil – onde trabalhou durante 31 anos, de 1982 a 2013 – e autor de todas as obras mencionadas. Formado em Economia e Pedagogia, o maringaense sempre se dedicou a uma paixão que começou ainda na infância: a arte plástica.

“Com 10 anos de idade, mais ou menos, eu comecei a desenhar. Desenhava gibi e histórias em quadrinhos. Comecei a fazer retrato e fui embora”, diz Dantas, em seu estúdio: a sala da própria casa. Local protegido por Bob, o “rottweiler da família”. Um pequeno poodle invocado, como todos os cachorrinhos metidos a valente. No canto do mesmo cômodo, encontra-se a mesa de jantar, “carinhosamente” apelidada por Janey Sales (mulher do artista) de “mesa da bagunça”. E rapidamente ela explica: “Eu não consigo comer na mesa, tenho que comer no sofá”. É esse o espaço de criação do marido: canetas, lápis, pincéis e mais retratos espalhados pela mesa, que um dia foi de jantar.

 

Nas quase cinco décadas de arte, foram alguns cursos técnicos de pintura em tela, pintura com pastel e nada mais. “Sou autodidata, aprendi com as tentativas, treinando.” Apesar de sempre receber alguns pedidos pelo Facebook ou direto pelo site www.joeldantas.wix.com/dantas, é agora, depois da aposentadoria, que a produção aumentou consideravelmente. “Quando deu o choque de parar de trabalhar, virou uma terapia para mim. No começo eu não conseguia dormir, aí ficava a noite inteira desenhando.”

 

E não é só a aposentadoria que dá o impulso necessário à produção. Períodos meio sombrios da vida do pintor também ajudaram. Aos 20 anos, descobriu que estava com tuberculose e precisou ficar internado em uma enfermaria por quatro meses, sob os cuidados de freiras católicas. Dantas diz que começou a pintar muitas imagens de Jesus Cristo, “dia e noite, para que não ficasse pensando besteira”.

 

“Fiquei internado em Londrina, em um local com oito camas. Toda noite os médicos corriam tentando ressuscitar algum paciente que estava morrendo e no outro dia amanhecia a cama vazia. E você acordava pensando ´quem será hoje?´ Fui para morrer, achei que ia morrer”, revela ele.

E desse período surgiu um quadro que muito se orgulha. Uma imagem de Cristo que, dada de presente a uma das religiosas do hospital, foi de alguma forma parar dentro da casa do Papa. “Tenho quadro até no Vaticano”, diz, orgulhoso. Além do Vaticano e outros locais da Europa, Dantas já expôs diversas vezes em Maringá. Na prefeitura, shoppings, Teatro Calil Haddad, Caixa Econômica, Banco do Brasil, Hotel Golden Ingá, Deville e no Sesc. Sem data ainda confirmada, ele planeja fazer a próxima mostra no Shopping Avenida Center.


Como se não bastasse, ele ainda é músico. “Eu gosto de tocar e compor samba e MPB. Já participei das primeiras edições do Femucic, em 1974 e 75, quando ainda era no Colégio Gastão, e outros festivais em Paranavaí, com o grupo Gralha Azul. Inclusive, eu e o Luiz de Carvalho (repórter do Diário) já participamos do Femucic com uma música autoral, ´Versículo´. Cheguei a tocar em bares também, mas sempre foi uma brincadeira.”

 

Com a mesma humildade de sempre, ele insisti em dizer que não é um “artista de verdade”. Imagina se fosse.

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