- De bem votada na primeira eleição, Lizete não conseguiu nem a suplência quando tentou a reeleição
- “De política não tenho a menor saudade. Só tenho saudade dos meus filhos e de homem grande, bonito e gostoso”
Morreu nesta segunda-feira, 7 de fevereiro, a professora Lizete Ferreira da Costa, que entrou para a história de Maringá como a segunda vereadora do município, eleita em 1976. Ela sofreu um infarto fulminante no momento em que tomava o café da manhã no recanto de idosos em que morava, o Residencial Geriátrico Maanaim, no Jardim Cidade Alta II.
Tanto na Imprensa quanto nas redes sociais e mesmo durante o velório, muito foi lembrada a vida de altos e baixos de Lizete, que tanto esteve no auge, como vereadora, quanto como secretária municipal da administração João Paulino, como esteve em situações caóticas, vivendo em hoteizinhos de baixa categoria ou andando pelas ruas carregando suas malas com roupas e livros, sem ter para onde ir.
A mesma mulher que vagava pelas ruas da cidade em que foi vereadora, era a que pouco antes morava em um casarão da Zona 5, mulher de médico bem-sucedido, e vinda de uma família de classe média de Curitiba, filha de médico que estudou nas melhores escolas, fez nove anos de piano clássico e fez facudade de Belas Artes.
Desde que veio para Maringá com o marido médico, Lizete lecionou em mais de 10 escolas, teve três filhos e estudou Direito na Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Mandato fez mais mal do que bem
Há quem diga que o mandato de vereadora fez mal para a cabeça de Lizete Ferreira da Costa. Ele se tornou uma personagem rara ao ser a segunda mulher a ser eleita para a Câmara. Além disso, era a única mulher numa câmara de 21 vereadores, boa parte deles com reservas com relação a mulher no poder.
Enquanto vereadora, Lizete Ferreira estava em todas. Era convidada para tudo, estava nas reuniões do partido, do grupo político, era tratada com a honra que as autoridades da época recebiam, novas amizades, amizades de interesse, falta de tempo para os velhos amigos, falta de tempo para a família, era paparicada e recebia muitas cantadas.
E foi aí que a vida de sucesso da vereadora se refletiu na casa, na família. Mais ausente do que presente na família, acabou se separando do marido, se juntou com um advogado, mas a vida foi degringolando.
Do casarão ao pulgueiro num piscar de olhos
Quase tudo que fez como pessoa foi reprovado pela sociedade, quase tudo que fez como política, foi reprovado nos meios políticos, não representou bem os professores e nem a Educação. Foi ficando cada vez mais sozinha. E isto ficou claro na eleição seguinte. A mulher que foi eleita com 853 votos em 1976, desta vez não conseguiu nem ficar na suplência.
Mas, sozinha mesmo ela foi se ver depois que deixou a Câmara, não voltou para a sala de aula, não conseguiu trabalhar como advogada e nem se manteve em cargos políticos que conseguia cavar na prefeitura.
A descida foi rápida. Sem família, sem amigos, sem eleitores, logo a mulher que vivia num casarão da Zona 5 foi para uma casa menor, depois outra menor ainda, mais outra até que um dia acordou vivendo em um casebre de dois cômodos no Maringá Velho.
Foi viver em hotéis, mas foi descendo, cada um pior do que o outro, até chegar naqueles que eram chamados de pulgueiros nas proximidades da antiga rodoviária. E chegou a hora em que nem nos pulgueiros vivia mais.
Foi aí que entraram em cena os filhos. Aqueles mesmos filhos que ela não viu crescer, seguiram o pai (em tudo), eram médicos formados e tinham belas famílias. Moravam em Curitiba e em Londrina, se reuniram e decidiram socorrer a mãe que estava praticamente na mendicância.
A celebridade do abrigo
Foi viver no Residencial Geriátrico Maanaim, no Jardim Cidade Alta II, estabelecimento de alto padrão, onde, na época, era a mais jovem das internas, serelepe, o tempo todo andando para lá e para cá, falava mais do que o homem da cobra e divertia os companheiros e funcionários da casa.
Segundo funcionários da casa e mesmo os internos, Lizete era a mais elétrica de todos e não parava quieta. Sempre com passos rápidos para cima e para baixo com sua inseparável pochete vermelha, desproporcional ao tamanho da dona.
“Eu gosto muito daqui. Tudo é do melhor, os funcionários são atenciosos, a comida e boa e o ambiente é extremamente limpo e bonito”, dizia a seus visitantes sobre o ambiente. “O problema é que não posso sair, não sei mais como é minha cidade”.
Era gente considerada no Maanaimm. Recebia visitas importantes. Até o prefeito Ulisses Maia aparecia por lá para bater papo com a ex-vereadora.
Sem saudade da política, mas de homem bonito e gostoso
A vida no abrigo ajudou Lizete Ferreira da Costa a recuperar uma de suas características marcantes: a vaidade. Estava sempre de sobrancelhas tiradas, olhos contornados com rímel, alguma maquiagem e unhas bem pintadas. E dizia não sentir falta da política. “Vi muito jogo sujo na política, aquilo não serve para mim”. O que afirmava ter saudade era dos filhos, que sempre a visitavam, embora não morassem em Maringá, e dos netos.
Disse que ainda tinha capacidade e vontade para voltar a advogar e a dar aulas. “Sinto falta do piano. E de homem, grande, bonito e gostoso”.
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