Os movimentos pelo direito à terra para trabalhar perderam nesta sexta-feira, 8, o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Francisco Strozake, o Chicão da Copavi, um dos fundadores do Assentamento Santa Maria, em Paranacity, e da Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória, a Copavi. Ele tinha 81 anos e estava internado há alguns dias.
Gaúcho e homem de pouca escolaridade, Strozake desde muito jovem entendeu o papel social da terra e tinha clareza da exploração do ser humano em uma época em que a maior parte dos brasileiros vivia na zona rural, geralmente milhares e milhares prestando serviço a uns poucos latifundiários.
Ajudando a criar o MST
Desde a década de 1970 participava das discussões sobre o papel social da terra e nos anos 80 tornou-se um dos fundadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, participou de ocupações de terras e fez parte do grupo que em 1986 ocupou o Palácio Iguaçu, para cobrar posicionamentos do governo do Paraná.
Com técnicas vindas da agroecologia, a terra conquistada por Chicão e seus parceiros foi melhorada e produzia de tudo Foto: Arquivo
No início da década de 1990, depois de passar por diversos acampamentos, Chicão, mulher e oito filhos, junto com outras 19 famílias, participaram daquela que seria a ocupação mais importante de sua vida e um case de sucesso dos movimentos pela terra: a Fazenda Santa Maria, colada à área urbana de Paranacity, tinha histórico de terra apossada por fazendeiros irregulares.
Durante a ocupação, Chicão, seus familiares e demais companheiros enfrentaram cerco policial e várias investidas de jagunços armados a mando dos que se diziam donos das terras. Mas, o grupo foi vitorioso e em 1994 ganhou na Justiça a posse da fazenda, que foi desapropriada pelo Incra.
Vitória, onde o socialismo dá certo
Assim, o acampamento de “invasores” (palavra usada pelos contrários ao movimento) virou assentamento, um dos mais bem sucedidos do Brasil, onde a Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória, a Copavi, produz de tudo um pouco, tudo orgânico: leite, mel, frango, arroz, feijão, cana, pães artesanais, cachaça artesanal, açúcar demerara, açúcar mascavo, hortaliças e outros produtos, facilmente comercializados por sua qualidade e parte é exportada para a Europa, principalmente para Itália, França e Espanha.
As famílias, as mesmas que participaram do acampamento durante a ocupação da fazenda Santa Maria, hoje são cheias de doutores. Tudo que é ganho pela cooperativa é destinado ao estudo dos jovens e assim surgiram engenheiros florestais, agrônomos, veterinários e muitos professores. O aprendizado é calcado na agroecologia e assim o Assentamento Santa Maria é um exemplo de integração homem-natureza, onde fica claro que é possível produzir respeitando os recursos naturais.
E muito do sucesso da Copavi e do assentamento deve-se ao trabalho e liderança de Chicão Strozake e seus companheiros. “Seu legado é gigante, tanto como homem de ação quanto como homem de coração”, disse o filho Valmir.
“Chorando e lembrando, ergo os olhos e te vejo, seu Chicão, tomando um mate e sorrindo. Sorrindo como essa árvore que te dá sombra agora. Sorrindo de ver a Copavi em frente. De ver o MST, teu rebento, honrando as raízes e celebrando as sementes. Tuas palavras lá em 1993, nós temos que produzir comida, muita comida, porque tem muita gente com fome, vão sendo uma realidade bela e esperançadora”, escreveu a filha Janaína Strozake, campensina, professora e historiadora, ao saber da morte do pai.