Em Astorga, Zulmira Genaro e sua luta contra o câncer – dela é de outros

Luiz de Carvalho

 

A história da Rede de Combate ao Câncer de Astorga (a 50 quilômetros de Maringá) se confunde com a de sua coordenadora, Zulmira Batista Genaro. Com o tempo, a Rede tornou-se sinônimo de Zulmira e vice-versa. Lidando todos os dias com a dor de centenas de pessoas acometidas pelo câncer, a ironia do destino foi ela própria ser diagnosticada com a doença. Mas não se entregou e é vista atendendo pessoas, confortando familiares e distribuindo bens materiais até mesmo nos dias das sessões de quimioterapia.

A Rede, que no início chamava-se Rede Feminina de Combate ao Câncer, só foi feminina no nome, pois atende também homens e crianças. Afinal, o câncer não escolhe sexo. Também não é uma instituição comandada só por mulheres. Em sua diretoria estão empresários, bancários, funcionários públicos, profissionais liberais e trabalhadores comuns. Também há mulheres e homens entre os 40 voluntários fixos, aqueles que são pau-para-toda-obra, organizando e realizando eventos para arrecadar o dinheiro que vai ajudar na manutenção de pessoas com câncer e até mesmo o pagamento de consultas especializadas que não são cobertas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A entidade já pagou cirurgias de até R$ 15 mil.

Além do serviço, muitas vezes os voluntários pagam para trabalhar. Pessoas que não têm ligação com a Rede, outras entidades, clubes de serviço e empresas também participam com doações e até organizando eventos para arrecadar dinheiro para a compra de alimentação diferenciada para os doentes, fraldas e medicamentos. Graças a isto, centenas de pessoas com câncer e seus familiares têm sido ajudados desde 2001, quando a Rede Feminina de Combate ao Câncer nasceu em Astorga. Hoje, 171 doentes estão no cadastro da entidade, mas a ajuda chega também aos familiares.

A entidade que nasceu em uma casinha emprestada por uma cooperativa, hoje tem como sede própria uma ampla casa no centro da cidade, com salas para direção, reuniões, cozinha e muito espaço para guardar os víveres que serão distribuídos aos cadastrados.

Por traz de tudo isto está Zulmira, uma técnica de enfermagem que passou a vida no serviço de saúde do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e na Secretaria de Saúde da prefeitura. Ela participou da fundação da Rede e está à frente desde o início. Mesmo com o compromisso em seus empregos e o trabalho de mãe de família, Zulmira é do tipo de gente que levanta de madrugada para atender um doente, junto com o marido, Antonio, ajuda até a dar banho em pessoas, coordena pessoalmente o cadastramento, a distribuição de víveres e os grandes e pequenos eventos da instituição, como um show de prêmios em março e um leilão de gado em setembro.

Segundo as colegas de trabalho, Zulmira é a pessoa que melhor entende a situação de quem tem câncer. “Falo com as pessoas como um igual e elas confiam em mim porque sabem de minha situação”, diz ela. Em 2006, depois de fraturar a coluna seguidas vezes, ela foi diagnosticada com um mieloma múltiplo, um tipo de câncer das células plasmáticas da medula óssea.

“Não pude me entregar, até nos dias das sessões de quimioterapia – que arrasam a gente – eu vinha trabalhar porque sei muito bem que o estado de espírito de quem tem câncer é muito importante na recuperação”. Segundo ela, muitas pessoas ao saberem que estão com câncer ficam tão arrasadas psicologicamente que acabam piorando o estado da doença. “Passei anos dizendo às pessoas para terem ânimo, então era minha vez ter ânimo”.

Aos 66 anos de idade, 59 deles vividos em Astorga, agora aposentada, a auxiliar de enfermagem que estudou também Pedagogia, casada e mãe de duas filhas, não está curada, pois o mieloma múltiplo é um tipo de câncer que não desaparece totalmente. Mas ela continua trabalhando normalmente. No momento, além do dia a dia da Rede Feminina de Combate ao Câncer, está envolvida com a organização do show de prêmios que a entidade realizará no mês que vem, um dos maiores eventos anuais de Astorga.

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