O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira (16) que os países da América do Sul só se desenvolverão de forma conjunta e solidária, uma vez que, segundo ele, “não é possível imaginar um país rico cercado de países pobres por todos os lados”.
“O Brasil, como irmão maior dos países da América do Sul, tem que ter a responsabilidade de fazer com que os outros países cresçam junto conosco, para que a gente possa viver em um continente de paz e tranquilidade; e para que a gente nunca mais repita o gesto ignorante de uma guerra entre homens e mulheres e entre nações, como a que ocorreu entre Brasil e Paraguai”, disse o presidente no Paraná, durante cerimônia de posse de Enio Verri na presidência brasileira da hidrelétrica Itaipu Binacional.
Durante o discurso, Lula defendeu o aprimoramento das relações entre os países do continente, em especial no sentido de fortalecer o Mercosul e a União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
“O Brasil – por seu tamanho, população e por ser o país mais desenvolvido do ponto de vista industrial, científico e tecnológico – tem de ter a grandeza de ser humilde e a grandeza de compartilhar tudo aquilo que pode acontecer de bom para o povo brasileiro, com os povos dos países vizinhos”, disse.
O novo presidente da hidrelétrica defendeu, em seu discurso, que para além do valor econômico da energia elétrica, o insumo tem importância também para o desenvolvimento social.
“Prefiro ressaltar que a dimensão social da energia e a universalização do acesso [à energia] é condição habilitante para uma cidadania plena do século 21. É também indispensável para incorporar o mercado de excluídos e o acesso aos bens básicos. Queremos energia para todos os brasileiros e brasileiras. É um direito básico que o Estado tem obrigação de garantir. Por isso mesmo é considerado um serviço essencial”
Hidrogênio verde
Lula acrescentou que o potencial da usina pode favorecer a produção de uma fonte energética limpa que tem despertado cada vez mais o interesse estrangeiro: o hidrogênio verde.
“Itaipu é uma coisa fantástica: você tem um lago enorme e você tem uns canos brancos que produzem dólares. Sim, ali, na verdade, se produz dinheiro. Quando vejo Itaipu vertendo água, fico imaginando na quantidade de dólares. Quem sabe em um futuro muito próximo a gente produzirá Hidrogênio Verde a partir dessa água de Itaipu, ganhando dinheiro das duas pontas”, disse.
Lula destacou a importância para a economia do Paraguai de encerrar o pagamento das parcelas de financiamento da construção da usina binacional, e assegurou a boa vontade brasileira para as próximas negociações envolvendo o empreendimento.
“Tenho certeza de que faremos um tratado que leve muito em conta a realidade dos dois países e que leve muito em conta o respeito que o Brasil tem que ter por seu aliado, o nosso querido Paraguai”, disse.
Lula lembrou que, durante as negociações para a construção de um linhão ligando a usina à capital paraguaia, Assunção, o governo brasileiro recebeu muitas críticas de seu empresariado por estarem favorecendo a ida de empresas brasileiras ao país vizinho.
“Esse era o objetivo mesmo, porque um país do tamanho do Brasil, que faz fronteira com todos os países da América do Sul menos Equador e Chile, é um país que tem de combinar o seu crescimento econômico com o crescimento econômico dos seus parceiros”, argumentou.
Unila
Ainda na defesa de uma unificação cada vez maior entre os países do continente, Lula disse que retomará o compromisso assumido em seus mandatos anteriores, de fortalecer a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), inaugurada em 2010, em Foz do Iguaçu.
“Depois que deixei a Presidência, pouca coisa foi feita na Unila. E eu sonhava que essa universidade deveria ter, nos dias de hoje, mais de 20 mil alunos. O meu compromisso com o povo brasileiro é o de reconstruir a Unila”, disse.
“Como é que um país do tamanho de Cuba, com 10 milhões de habitantes e um território do tamanho de Pernambuco, consegue ter universidade de Medicina para oferecer a estudantes de toda a América do Sul e, gratuitamente, para países africanos? E como é que um país do tamanho e com a grandeza do Brasil não tem essa generosidade de oferecer possibilidade para as crianças e adolescentes de todo o nosso continente?”, complementou.
Enio Verri destaca o papel social de Itaipu
No discurso que fez na presença do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e do presidente do Paraguai, Mário Abdo Benitez, durante sua posse como diretor-geral brasileiro de Itaipu Binancional, o ex-deputado Enio Verri disse que assume a empresa alinhado com os objetivos do governo federal, principalmente no combate à desigualdade e políticas sociais. Ele diz estar atento ao compromisso social de Itaipu. “Reitero o compromisso central do governo Lula: fortalecer o papel estratégico de Itaipu no desenvolvimento. Queremos participar ativamente e subsidiar políticas do governo federal, em parceria com os governos estadual e municipais do Paraná.”
Verri citou investimentos nos governos anteriores do presidente e destacou que a educação foi uma bandeira importante, com a criação do Parque Tecnológico Itaipu (PTI), da Unila e o campus do Instituto Federal do Paraná (IFPR) em Foz do Iguaçu. “Seus frutos já estão sendo colhidos e continuarão sendo colhidos pelas futuras gerações. Como professor, sei que as instituições de ensino e pesquisa são os verdadeiros instrumentos para a transformação social”, afirmou.
Ficou claro durante a cerimônia que a binacional terá na nova gestão um papel ainda mais voltado ao desenvolvimento socioeconômico e ambiental. “Há quem prefira abordar a energia somente pelo lado da economia, como um insumo essencial ao desenvolvimento, o que é rigorosamente verdadeiro. Porém, prefiro ressaltar a dimensão social da energia. A universalização do acesso é condição habilitante para uma cidadania plena no século 21”, apontou o diretor-geral.
Para Verri, Itaipu não pode exercer um papel de mera geradora de energia, mas é, antes de tudo, um exemplo de um projeto bilateral de reconciliação, cooperação e integração. “Itaipu aplica a melhor engenharia no gerenciamento do reservatório, da barragem e de suas instalações. Mas não só isso: Itaipu também cuida das pessoas e do meio ambiente e estimula o desenvolvimento regional sustentável.”
Ainda de acordo com o diretor, Itaipu continuará com um olhar prioritário para o território no qual está inserida e para as comunidades do seu entorno. “Vamos reconstruir a rede de parcerias, estreitar as relações com universidades e o setor produtivo, dialogando com as comunidades, municipalidades, cooperativas e organizações sociais. Vamos apostar na vocação do PTI de celeiro de boas práticas e inovações para apoiar o desenvolvimento local e regional”, completou.
Participaram da cerimônia de posse os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia), Mauro Vieira (Relações Exteriores), Rui Costa (Casa Civil), o governador em exercício do Paraná, Darci Piana, o prefeito de Foz do Iguaçu, Chico Brasileiro, e o diretor-geral paraguaio de Itaipu, Manuel María Cáceres.
Quem é o novo diretor de Itaipu
Nascido em Maringá, Enio Verri, 61 anos, é economista e mestre em Economia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e doutor em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo (USP), além de especialista em Teoria Econômica pela Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana. Também é professor aposentado do Departamento de Economia da UEM, onde foi admitido em 1997.
O novo diretor tem ampla experiência na administração pública, nas esferas municipal, estadual e federal. Na Prefeitura de Maringá, foi secretário municipal de Fazenda (2001 – 2003) e secretário de Governo (2003 – 2004). Atuou como assessor técnico na Presidência da Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional (2004 – 2005) e chefiou o gabinete do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2005 – 2006).
De volta ao Paraná, foi eleito deputado estadual e acabou convidado para assumir a Secretaria de Estado de Planejamento, onde ficou até 2010. Foi reeleito deputado estadual para o mandato 2011 a 2014, ano em que conquistou, pela primeira vez, a vaga para a Câmara Federal. Foi reeleito deputado federal em 2018 e 2022.
Na Câmara, Enio Verri foi membro titular da Comissão de Finanças e Tributação, entre outras comissões temporárias ou permanentes. Mais recentemente, integrou o grupo temático de Planejamento, Orçamento e Gestão da equipe de transição do presidente Lula.
Verri é casado com Neusa Aparecida Barbi, com quem tem um filho, Francisco. O novo diretor-geral brasileiro é avô de João Miguel.