Pela janela da cozinha de casa, o ex-caminhoneiro Luiz de Oliveira Ruella, 86 anos, tem diante dos olhos um dos mais conhecidos cartões postais de Maringá, o Parque Alfredo Werner Nyffeler, e pode comparar com as recordações que guarda, dos tempos em que ali estava um matagal fechado, onde se via os mais diferentes pássaros, de tamanhos, cores e cantos variados, e de onde saíam cobras, lagartos e outros animais, entre eles capivaras.
Talvez por terem conhecido o local em épocas remotas que Ruella, os familiares e vários vizinhos dele – também antigos no local – ainda se referem ao cartão postal como “Buracão”. Quando muito, “Parque Buracão” ou “Buracão do Alfredo Nyffeler”.
Quando se mudou para Maringá, vindo de Ouro Verde, região de Altônia, a parte da Vila Morangueira onde mora ainda era uma área de pequenos sítios e chácaras, e a Rua Havaí, onde está a casa, era um carreador. O local em que está o parque ainda nem era conhecido como Buracão, era apenas um matagal, que guardava a nascente de um córrego.
“Quem queria um atalho para a cidade tinha que passar por trilhas no meio da mata”, conta Ruella, que lembra que sobre o córrego havia uma pinguela, feita com alguma árvore que caiu ligando as duas margens. “De vez em quando a gente ficava sabendo que alguém tinha caído da pinguela e houve o caso de uma pessoa que morreu, possivelmente, por causa da queda”, recorda.
Do lixão ao parque
O local passou a ser chamado de Buracão, depois que foi desmatado e, por falta de cobertura vegetal, surgiu uma imensa erosão. Como está em uma região baixa, para lá corriam as enxurradas da Vila Morangueira e do Jardim Alvorada, fazendo com que a voçoroca crescesse a cada chuva. E a área degradada tornou-se um “bota fora”, que recebia descarte de entulhos, de ferro velho, um verdadeiro lixão a céu aberto.
No fim de década de oitenta do século passado, ainda durante primeira a administração do prefeito Said Ferreira, a prefeitura decidiu combater a erosão com a revitalização do local. Afinal, era necessário proteger a nascente do Ribeirão Morangueiro, um dos principais mananciais de Maringá e subafluente do Rio Pirapó, que abastece a cidade.
Em uma área de 104 mil metros quadrados foi desenvolvido um projeto que inclui um lago artificial, dois campos de futebol suíço, parque infantil, pista de corrida, mirante, churrasqueiras, áreas de jardins e muitas árvores.
O parque é aberto para pescarias, oferece espaço para exercícios físicos e mais recentemente criou um campo para a prática de rugby, nova modalidade olímpica. “Eu e meus vizinhos vimos toda a transformação. Primeiro era o mato. Depois, sobrou a erosão e daí vieram as máquinas e construíram o lago para, em seguida, ganhar a forma de parque”, conta Luiz Ruella.
De acordo com ele, o surgimento do parque foi muito importante para a Morangueira, bairros ao longo das avenidas Tuiuti, Pedro Taques e Colombo. “Quem podia imaginar que aquele buracão seria um dos pontos turísticos da cidade, atraindo visitantes de várias cidades?”, ressalta.
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Nyffeler era dono do buraco
O nome do gestor Alfredo Werner Nyffeler não foi escolhido para nomear o parque da Vila Morangueira por acaso, nem por puxa-saquismo. Ele e o buração já estavam ligados há muito tempo, pois era o proprietário da famosa Fazenda de Maringá desde a década de 1940 e era dentro dela que estava a nascente do Ribeirão Morangueiro, que depois virou uma enorme erosão e ganhou o nome de Buracão.
Além disto, a cidade estava em dívida com Nyffeler, que foi gerente da Companhia Melhoramentos em Maringá durante 25 anos, inclusive quando foi lançado o projeto da cidade, no dia 10 de maio de 1947.
Ele e sua família foram os primeiros moradores do Maringá-Novo. A casa, toda feita em madeira, foi construída no meio da mata, mas quando a mata foi derrubada ela ficou exatamente no Centro, na Avenida Brasil, entre a Avenida Duque de Caxias e a Praça Raposo Tavares, e em volta dela nasceu a cidade que Maringá é hoje. Hoje, a casa que foi de Alfredo Nyffeler abriga o Museu da Bacia e está exposta na entrada do câmpus da Universidade Estadual de Maringá (UEM), ao lado da Reitoria.
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maucadam@hotmail.com Meu pai instalou na casa em que o Sr. Alfredo Nyffeler residia, na Av. Brasil, em 1947, um Windcharger,
aparelho eolico que gerava energia, corrente continua de 12 volts para carregar bateria que alimentava um rádio, pois o fornecimento de energia pela Companhia de Terras Norte do Paraná não era continuo.