A Odisseia de Ulisses Maia em livro de Joel Cavalcante

Biografia de Ulisses Maia pode ser apenas o começo de uma odisseia

Nas 320 páginas da biografia “A Odisseia de Ulisses Maia”, escritor procura mostrar a preocupação do político maringaense com a construção de uma cidade cada vez mais humana, uma cidade boa para pessoas de todas as classes, uma cidade cada vez melhor para viver

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Luiz de Carvalho

 

Ulisses Maia não chorou na hora do discurso durante o lançamento de sua biografia. Apenas mastigou algumas palavras, gaguejou, interrompeu a fala e os olhos encheram dágua. Choro mesmo ele teve em casa em várias noites em que, de quebra, perdia o sono. A diferença é que o choro durante o discurso, terça-feira, 17, no Teatro Calil Haddad, foi de emoção. O outro, bem, o outro talvez só seu coração sabe, mas dificilmente conseguirá explicar em palavras.

 

O outro choro de Ulisses Maia – isto para ficar em apenas um – foi quando seus filhos e sua mulher se desesperaram diante vários representantes do comércio local, se denominando gente de bem, se plantaram no portão de sua casa, gritando, gesticulando loucamente, xingando, ameaçando, espumando o canto da boca e cuspindo impropérios porque o prefeito seguiu as determinações da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Ministério da Saúde e de todos os profissionais de saúde ajuizados, decretando medidas de prevenção ao coronavírus, entre elas o fechamento temporário de bares e casas noturnas.

 

A biografia “A Odisseia de Ulisses Maia”, publicada pelo escritor e sociólogo Joel Júnior Cavalcante, foi lançada terça-feira, 17, no Teatro Calil Haddad, duas semanas antes de Ulisses entregar a prefeitura ao vencedor da eleição de outubro, o progressista Silvio Barros, que retorna ao cargo depois de 12 anos do final de seu segundo mandato.

A Odisseia de Ulisses Maia conta a história do prefeito de Maringá

Biógrafo Joel Cavalcante e o biografado Ulisses Maia em noite de autógrafo no Teatro Calil Haddad Foto: Rafael Macri

 

 

Foi um dos lançamentos de livro mais prestigiados da história de Maringá e fez de Ulisses o único prefeito biografado em vida. Outros dois antecessores que tiveram biografias foram João Paulino, feita mais no estilo homenagem por seu amigo Túlio Vargas, e Américo Dias Ferraz, resultado de uma pesquisa dos jornalistas Dirceu Herrero Gomes e Donizete Oliveira.

 

Empresários, políticos, amigos de longa data, servidores públicos e familiares estiveram no lançamento e levaram para casa um exemplar da obra de Joel Cavalcante editada pela Sinergia Editorial, com a marca da produção gráfica de Carlos Venancio.

 

O jornalista e chefe de Gabinete da prefeitura Domingos Trevizan, que faz a Apresentação no livro, falou em nome de todos que conhecem Ulisses Maia e o historiador e escritor Reginaldo Benedito Dias, prefaciador da obra, destacou a importância do livro de Joel Cavalcante como registro histórico.

 

 

Podem ser apenas os primeiros episódios

A exemplo da história contada pelo cego jônico Homero oito séculos antes do nascimento de Cristo, em uma época em que ainda a literatura se resumia à tradição oral, em que cada um que a repetia aumentava ou tirava algo por criatividade, esquecimento ou falta de talento, a odisseia contada por Joel Cavalcante também é sobre um tal Ulisses, mas aqui a hitória ainda não pode ser concluída, talvez esteja apenas no começo, como disse o jornalista Domingos Trevizan em seu discurso de apresentação no Calil Haddad.

 

Na Odisseia do professor Joel, Ulisses mal passou de meio século de vida e seus cargos políticos se resumem a vereador e prefeito. Ele ainda pode almejar ser deputado, senador, governador e até voltar a ser prefeito de Maringá.

 

O escritor teve a preocupação de contar a história de forma linerar e com texto que pode ser (bem) compreendido por qualquer pessoa, do afeito à leitura profunda ao leitor de menos estudo. Ao mesmo tempo em que o leitor conhece a história de Ulisses, tem como pano de fundo alguns dos principais momentos e acontecimentos da política maringaense nas últimas décadas.

 

Se é odisseia, começa pela Grécia

Para ser uma odisseia naquele sentido que o poeta Homero imaginou, a história começa pela Grécia. Afinal, Ulisses é nome grego, igual ao do heroi da guerra de Troia. E tanto quanto ser Maia, ele é Kotsifas, nome de uma família de Lefkada, uma ilha grega no Mar Jônico.

 

É a partir de Lefkada que Joel Cavalcante inicia a biografia de Ulisses Maia, lembrando que foi de lá que o jovem Eustatios Georges Kotsifas, fugindo dos horrores da 2ª Guerra Mundial, chegou ao Brasil. Foi morar em Minas Gerais, onde trabalhou, aprendeu a falar Português e casou-se com a jovem Noêmia Maia.

A Odisseia de Ulisses Maia, biografia escrita pelo sociólogo Joel Cavalcante

Na ilha de Lafkada, na Grécia, a casa em que nasceu Eustatios Georges Kotsifas, patriarca da família que faz história em Maringá Foto: Arquivo pessoal

 

No início dos anos 1960 o casal veio morar em Maringá, fixando-se na Rua Neo Alves Martins, na Vila Operária, na época um dos bairros mais pobres da cidade. Eustatios montou um pequeno comércio e depois um mercadinho em Sarandi, que na época pertencia a Marialva e era mais uma comunidade rural. Logo o estabelecimento ficou famoso como o Mercado do Grego e seu dono assistiu a uma das maiores explosões demográficas da história.

 

Grego e Noêmia tiveram 11 filhos, todos homens, que cresceram na Operária, estudaram no Colégio Santo Inácio e se formaram em diferentes profissões.

A Odisseia de Ulisses Maia

Grego, dona Noemia e os 11 filhos Foto: Arquivo da família

 

Ulisses estudou Direito, se especializou em Direito Eleitoral, publicou um livro sobre o assunto e entrou para a política ao seguir o irmão Ricardo, que foi vereador e deputado estadual.

 

Desde muito jovem, já atuava nos bastidores da política e foi quanto apresentava um comício do candidato Adriano Valente na Vila Esperança que conheceu a psicóloga Eliane, com quem se casou. O casal teve os filhos Carolina e Petrus, hoje adolescentes.

 

De lá para cá, Ulisses foi vereador, presidente da Câmara, chefe de Gabinete da administração Silvio Barros, secretário de Assistência Social, vereador e presidente da Câmara novamente e duas vezes prefeito.

 

 

Mesmo com choro, venceu o bom senso

Segundo Joel Cavalcante colocou na biografia de Ulisses Maia, o lugar mais desafiador para se estar em 2020 era à frente de prefeituras, governos estaduais, Ministério da Saúde… é claro que muitos gestores, quase todos, simplesmente ‘obedeceram’ um governo central que tentava desacreditar à Ciência, fazia campanhas contra vacinas, receitava medicamentos sem qualquer eficácia comprovada. Mas, em Maringá, valeu a autoridadede um prefeito preocupado em evitar mortes evitáveis.

A Odisseia de Ulisses Maia fala de pandemia da covid-19

Para seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde, Ulisses Maia teve que enfrentar comerciantes que colocavam seus interesses acima das medidas de segurança, órgãos de imprensa antivacina e prefeitos que não tinham noção do perigo Foto: Arquivo

 

 

Foi a decisão de fazer com que fossem cumpridas as medidas de eficácia comprovada, como uso de máscara, distanciamento social e vacinação que fez Ulisses Maia chorar. Chorar porque algumas pessoas insistiam em desafiar o vírus mais devastador que se tem notícias nos últimas décadas simplesmente para serem ‘do contra’, colocando as próprias vidas e as vidas de milhares de pessoas em perigo.

 

Quando o prefeito de Maringá determinou que estabelecimentos comerciais, órgãos públicos e ambientes seguissem as orientações da Organização Mundial da Saúde, principalmente no que se refere a distanciamento e higiene, várias pessoas ‘do contra’ fizeram protesto na frente da prefeitura, xingaram e ameaçaram o prefeito e o secretário de Saúde, o médico Jair Biato, e, não satisfeitos, repetiram a dose na frente da casa do prefeito, inclusive ameaçando a família e a invadir a casa, para desespero da esposa e filhos de Ulisses.

 

As ameaças e desaforos fizeram chorar, mas não foram suficientes para fazer Maringá seguir o caminho lamentável de quem preferiu entrar para a história pelo lado vergonhoso.

 

Como prefeito da cidade polo de uma ampla região, cidade que tinha condições para atender às vítimas da covid-19, Ulisses Maia liderou uma reação que precisava chegar a todos os municípios da região, tendo que, inclusive, atropelar prefeitos simpáticos a tratamento precoce, kit covid e comércio e órgãos públicos abertos normalmente no período mais crítico e mortal da pandemia.

 

Venceu o bom senso. Certamente o número de mortos foi bem menor do que seria se faltasse firmeza ao prefeito de Maringá.

 

Devolvendo Maringá para os maringaenses

“Esta é uma biografia que fala de um político, sim, mas fala muito mais da pessoa Ulisses Maia, suas origens, sua história, como ele foi forjado para ser o vereador mais jovem da cidade, o presidente da Câmara mais jovem e duas vezes prefeito da melhor cidade do Brasil”, conta o escritor Joel Cavalcante.

A Odisseia de Ulisses Maia, uma biografia do prefeito de Maringá

Ulisses e Joel autografaram todos os exemplares da biografia distribuídos ao público que compareceu ao lançamento, no Teatro Calil Haddad Foto: Rafael Macri

 

 

Segundo o biógrafo, alguns aspectos da administração Maia precisam ser destacados, como a preocupação do prefeito em devolver Maringá aos maringaenses, com políticas públicas voltadas à humanização da cidade.

 

Assim, ganham destaque a ocupação dos espaços públicos, políticas habitacionais, cultura, educação, saúde, além de levar a prefeitura ao mais alto nível de transparência, o que rendeu ao município o Selo Diamante de Transparência.

 

 

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