Como se fosse um assessor de imprensa de empresas, clubes sociais e de gente destacada na sociedade, Frank Silva viveu em festa, ganhou dinheiro e se tornou magnata da comunicação
A vida foi uma festa para Frank Silva. Ninguém
em Maringá foi mais convidado do que ele para festas e todos os tipos de eventos,
a ponto de ter que rejeitar muitos ou não poder atendê-los pela impossibilidade
de estar em dois ou três lugares ao mesmo tempo. A coluna “Frank Silva” e
depois “O Diário de Frank Silva” chegavam a ter mais leitura do que os jornais
em que estavam e rendiam bem financeiramente, tanto que o colunista acabou
comprando o jornal em que trabalhava.
Silva morreu em setembro deste ano por
complicações causadas por câncer no intestino e em seus 78 anos de vida nunca
teve qualquer atividade profissional que não estivesse ligada à comunicação.
Aos 13 anos começou a trabalhar em rádio e aos 15 ganhou notoriedade ao narrar
em primeiríssima mão um acidente com um avião no centro de Maringá, em que
morreram os dois ocupantes.
“Talvez tenha sido sorte”, contou ele. “Foi no
dia 10 de maio de 1957 e eu estava no ar na Rádio Jornal, na Avenida Getúlio
Vargas, enquanto a alguns metros de distância, na Avenida Brasil e Praça Raposo
Tavares, acontecia a festa do aniversário de 10 anos de Maringá. Um esquadrão
de shows da Força Aérea fazia acrobacias e num dado momento um dos aviões bateu
no mastro da bandeira, saiu rodopiando por cima do povo e foi bater numa
gigantesca caixa d’água que existia no pátio da estação ferroviária, caiu,
pegou fogo e os dois pilotos morreram carbonizados, diante da multidão
aterrorizada. Da janela onde eu estava, via quase tudo e fui sendo informado
pelo povo que estava na rua e correndo para o microfone para passar os detalhes
aos ouvintes”, contou.
A partir daí, ninguém segurou mais. O jovem
locutor caiu nas graças diretor da Rede Paranaense de Rádio, Joaquim Dutra,
ganhou programa em horário nobre da Rádio Cultura e passou publicar no O Jornal
uma coluna sobre radialistas, cantores e atores de cinema e televisão. Quando
dom Jaime iniciou a Folha do Norte, em 1962, foi convidado a escrever coluna
social desde a primeira edição. Quando Dutra arrendou a Folha, Frank pode
ilustrar melhor sua coluna devido à implantação de uma clicheria no jornal.
Seguindo os passos de colunistas que viraram
celebridades nacionais, como Ibrahim Sued, de O Globo, e Zózimo Barroso do
Amaral, do Jornal do Brasil, Frank Silva foi além das festas e fofocas e passou
a noticiar também fatos do mundo empresarial e da política. “Doutor de anedota
e de champanhota,/Estou acontecendo no café soçaite”, dizia plageando um trecho
da música de Jorge Veiga sobre o “Grand Monde”. A diferença é que enquanto Sued
e Zózimo chegavam nos eventos em carrões, Frank chegava de lambreta até comprar
seu primeiro carro.
Festas ganham cores
Quando Joaquim Dutra montou o O Diário do Norte
do Paraná, em 1974, Frank e sua coluna foram as primeiras escolhas do
empresário. A coluna chamou-se “O Diário de Frank Silva” e se estruturou como
uma empresa dentro do jornal, com diagramador próprio, fotógrafo, redator,
contatos comerciais, tudo controlado com mão de ferro pela mulher de Frank,
Rosey Rachel Vieira da Silva. Ao colunista ficou o papel de atender os convites
para todos os eventos.
Entre as razões do sucesso da coluna nas
páginas de O Diário foi o fato de o jornal, a partir de um certo ponto, poder
abusar das fotos coloridas, novidade na época. Assim, eram tantos eventos para
fazer cobertura que não raro “O Diário de Frank Silva” precisou ocupar mais
páginas numa mesma edição.
Colunista multimídia compra jornal
Além de suas páginas cada vez mais glamourosas
e concorridas, o colunista do O Jornal, da Folha e, depois, de O Diário tinha
um espaço para falar da sociedade dentro do jornal de maior audiência da TV
Cultura/Globo (hoje RPC) e estava no rádio. Ficou famoso e aproveitou a fama
para fazer dinheiro. Junto com publicitários amigos, como Divanir Brás Palmas,
emprestou o nome para vender consórcios, promover bailes dos 20 Mais (os 20
engenheiros destaques, as 20 imobiliárias, 20 médicos, 20 dentistas, 20 escolas
de datilografia e assim por diante).
As geadas de 1975 arrasaram a cafeicultura
paranaense e mergulharam o Estado em profunda crise econômica. O Diário foi tão
afetado que o principal proprietário, Joaquim Dutra, também cafeicultor, quis
desfazer-se da empresa. Três empresários de outros setores, Enésio Gomes
Tristão, Altamir Vinheski e Edson Coelho Castilho, compraram o jornal. Um ano
depois, Frank e Rosey compram a parte de Tristão. “O Enésio era um amigo
antigo, dos tempos em que trabalhamos juntos vendendo matérias para prefeituras
em uma revista e ele me disse para pagar aos poucos, como pudesse”, contou
Frank Silva.
Mas, pagou a conta com um terreno em frente ao
Parque de Exposição e um anel de Rosey.
Mais adiante as outras partes da sociedade
foram adquiridas pelo empresário Ramirez Pozza, do ramo imobiliário e o casal
tentou comprar a parte de Pozza. Dinheiro não tinham, mas Frank e Rosey
refinanciam a própria residência na Caixa Econômica Federal. O avalista foi o
próprio Ramirez Pozza. Outros terrenos adquiridos na base de permuta também
entram no rolo.
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