O pecuarista Juarez Arante, que morreu nesta terça-feira, 21, depois de permanecer uma semana internado após ser encontrado caído no quarto de hotel em que vivia sozinho há mais de 30 anos, nunca deu uma entrevista sequer, porém, basta uma rápida busca no Google para se notar que ele sempre foi notícia. Saiu em jornais e portais de Maringá, do Paraná, do Tocantins, foi tema de reportagem na TV e mereceu até uma bem humorada crônica de Maurício Kubrusly em seu blog no G1, poderoso portal da Globo.
Juarez Artur Arantes, de 81 anos, considerado o homem mais rico e mais excêntrico de Maringá, foi encontrado caído no quarto em que morava em hotel do centro da cidade. Como não apareceu para o café da manhã e nem para o almoço, os funcionários do hotel estranharam e foram verificar se havia algo errado. O hóspede não atendeu às batidas na porta e os funcionários acabarram derrubando a porta e encontraram Juarez caído no chão.
Ninguém sabe há quanto tempo ele estava caído, mas os indícios eram de que havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Atendido pelo Samu, foi encaminhado para a Santa Casa, onde permaneceu uma semana em coma e intubado, até não resistir e morrer na noite desta terça-feira.
Riqueza e solidão
Juarez Arantes era tido como o homem mais rico de Maringá, mas ninguém sabe ao certo o tamanho de sua riqueza. Fale-se em dezenas de fazendas, produção agrícola e criação de gado, diz-se que ele tinha muitos imóveis, mas tambérm ninguém sabe quantos. Reza a lenda que, devido à sua briga com os herdeiros, vários imóveis estavam em nomes de terceiros e que só uma pessoa teria em seu nome o equivalente a mais de R$ 1 bilhão.
Há alguns anos ele comprou quase todo o Setor 10, em Maringá, antiga área industrial colado no Novo Centro, região conhecida como “Sanbra” por lembrança da maior indústria do local até o final da década de 1970.
Seja o tamanho que for essa riqueza, pode-se dizer que Juarez não desfrutou dela, era um pobre homem rico com uma vida miserável, separado, brigado e em guerra com as ex-mulheres e os filhos justamente por causa de dinheiro. A briga chegou a tal ponto que quatro dos cinco filhos entraram na Justiça para afastá-lo da gerência da Uiramutã Administração e Participação S/C Ltda, empresa que controlava dezenas de fazendas no Estado do Tocantins. Uma ex-mulher entrou na Justiça e conseguiu receber R$ 78 milhões.
Quase sem – ou sem – amigos verdadeiros e vivendo em quartos de hoteis, um em Maringá outro em Sandolândia, cidade de 3,5 mil habitantes em Tocantins, onde tinha algumas fazendas, uma delas com 3,3 mil hectares.
Quando não estava em suas fazendas, o bilionário era visto com roupas surradas, boné ou chapéu, em seu Ford Del Rey, que ele tirou da agência em 1986.
Fedor de cigarro e expulsão do hotel
Uma das marcas de Juarez Arantes era o tabagismo. Fumava muito e fumava em qualquer lugar, inclusive em ambientes onde o fumo era proibido.
Foi por causa do fumar desenfreado que uns 10 anos atrás ele enfrentou um sério problema com o Hotel Deville, onde morava já fazia uns 20 anos. Hóspedes do quarto andar reclamavam do mau cheiro de cigarro de marca barata e a insistência foi tanta que o hotel teve que tomar providências contra seu morador mais antigo. Primeiro pediu que ele parasse de fumar no quarto, como não adiantou, pediu que ele desocupasse o quarto. Como também não adiantou, o hotel entrou na Justiça com uma ação de despejo. Mas, também não adiantou. O bilionário excêntrico ganhou na Justiça o direito de continuar morando no Deville e, se quisesse, continuar fumando no quarto.
O episódio ficou famoso em Maringá e na época o jornal O Diário destacou o repórter Alexandre Gaioto para fazer uma matéria sobre o fato. O jornalista ficou dias e dias, semanas até, atrás do bilionário esquisitão, mas não conseguiu uma entrevista. Mesmo assim, fez uma página inteira sobre o assunto.
O fotógrafo do O Diário perdeu a viagem, mas a matéria foi ilustrada com o traço e o humor de Edu Mazzer.
A matéria de Gaioto foi além de Maringá, cruzou as divisas do Paraná e chegou ao conhecimento do jornalista Maurício Kubrusly, que fazia matérias especiais para o Fantástico, da Rede Globo, e o quadro “Me leva, Brasil”. Mas, Kubrusly não teve mais sorte do que o repórter do O Diário: também não conseguiu conversar com Juarez Arantes, mas não perdeu tempo e publicou em seu blog no portal G1, do Grupo Globo, a crônica “O Homem de Maringá“. Vale a pena conferir, é só seguir o link.
Confusões na Justiça
Ninguém explica direito como Juarez Arantes conseguiu se tornar um homem tão rico. Ele estava sendo adquirindo mais fazendas, mais imóveis nas cidades e talvez só ele soubesse o tamanho de seu patrimônio.
Alguns anos atrás ele dividiu a empresa Uiramutã Administração e Participação S/C Ltda, que controla as fazendas de Tocantins, entre cinco filhos, cada um ficou com 19% e ele com apenas 1%, mas continuou na administração do negócio, o que não era aceito pelos herdeiros.
Quatro deles estão há anos tentando afastar o pai da gerência da Uiramutã, e para atingir o objetivo, segundo denúncias registradas na Polícia Civil em São Miguel do Araguaia (GO) e em Maringá, os irmãos utilizaram de diversas formas de violência, como sequestro com cárcere privado e ameaças de morte, especificamente contra Ana Luiza Aparecida Arantes, a única filha que se contrapõe aos irmãos.
Mas, Juarez teve outros problemas com a Lei. Uma fazenda de 3,3 mil hectares foi levada a leilão para pagar dívidas trabalhistas. Na última hora, ele aceitou pagar a dívida e evitou que a propriedade fosse leiloada.
Em 2017, o nome do bilionário maringaense apareceu numa lista de 250 empregadores autuados em decorrência de caracterização de trabalho análogo ao de escravo.
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