Antonio Manfrinato

Morre o pioneiro Antonio Manfrinato, 100 anos de idade, 75 vividos em Maringá

O pioneiro Antonio Manfrinato, o ‘seu’ Tonico do Cafezal, que chegou a Maringá há 75 anos, morreu na tarde deste sábado, 15, aos 100 anos de idade, um mês e meio antes de completar 101. Manfrinato participou da festa realizada pela Companhia Melhoramento para lançar o ‘Maringá Novo’, no dia 10 de maio de 1947.

O corpo está sendo velado no salão nobre da Capela Prever da Zona 2 e o sepultamento será neste domingo, 16, no Cemitério Municipal, em horário ainda a ser definido.

Sempre de chapéu e quase sempre carregando um guarda-chuva, Manfrinato bateu pernas pelas ruas de Maringá até dois anos atrás, seu ponto de encontro era a porta do Supermercado Condor, onde diariamente se reunia com amigos para bater papo, mas circulava, sempre a pé, por outras regiões da cidade, visitava amigos antigos que não podiam mais sair de casa.

Antonio Manfrinato morre aos 100 anos

No dia em que comemorou 100 anos de idade, Antonio Manfrinato com o amigo Ulisses Maia, a a velha bicicleta e o inseparável chapéu Foto:  Dirceu Herrero

 

Teve que parar com a bateção de pernas devido a uma queda, que o mandou para o hospital, o deixou de cama por meses. Mas, mesmo na cama mantinha o ânimo, boa memória e o chapéu na cabeça. Por perto sempre estava a bicicleta que por muitos anos circulou em Maringá, mas teve que deixar de usar por proibição dos filhos.

 

Testemunha e parte da história

Antonio Manfrinato não era simples testemunha da história. Ele foi participante da história e em muitos casos, ele mesmo fez a história. Em outros, a história é ele.

Tonico tinha 25 anos quando mudou-se para Maringá em 1947, ano importante na história do município. Ele nasceu em 1921 em Nova Europa, distrito de Araraquara (SP). Aos 18 anos mudou-se para Andirá, no Paraná, onde se casou em 1943. Chegou a Maringá em 1947 para trabalhar na derrubada de matas, mas logo arranjou emprego para derrubar uma mata e ajudar a formar a fazenda de café do engenheiro Aristides Souza Melo, gerente da Companhia Melhoramento.

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“Já acertado, o doutor Aristides me chamou e disse que no dia 10 (era maio) eu tinha que ir no escritório da Melhoramentos, que ia ter uma festa. Fui encarregado de arranjar lenha e outros trabalhadores abriram uma valeta, que ia ser a churrasqueira”, contou Antonio Manfrinato. Era ainda madrugada do dia 10 de maio de 1947 quando ele entrou na mata para pegar galhos e árvores pequenas como lenha para assar o churrasco. “Tinha chovido muito e a lenha estava molhada. Quando puseram fogo, foi um fumaceiro danado, quase estragou a festa da fundação de Maringá”.

Morre Antonio Manfrinato

Após sofrer uma queda com fratura na perna, o pioneiro ficou mais caseiro Foto: Arquivo da família

 

Naquele dia, o jovem peão não tinha menor ideia de que estava participando da história da fundação de Maringá, pois a festa marcava a abertura das vendas de datas do Maringá Novo. O tal churrasco aconteceu onde hoje é o Centro Comercial e a mata em que Manfrinato buscou lenha era onde hoje é a Praça Raposo Tavares.

 

Escola Isolada Santa Maria Goretti

Durante 29 anos Antonio Manfrinato e a mulher moraram na fazenda de café do Doutor Aristides Melo. Ali eles viram nascer tudo o que existe ao norte da Avenida Tamandaré, viram a chegada da estrada de ferro, da abertura da Avenida Colombo, que se chamava Oficial, e o loteamento dos bairros abaixo da Tamandaré, como Vila Progresso, Vila 7, Ipiranga, Morangueira, Santo Antonio e, anos mais tarde, Jardim Alvorada. Viram também a chegada dos filhos e filhas, que se misturavam às crianças da Vila 7 e cresciam sem escola.

É aí que mais uma vez seu Tonico faz história. Em 1961 ele se encontrou com o prefeito João Paulino e reclamou que as crianças da Zona 7 não tinham escola. A conversa gerou reuniões e a prefeitura fez um acordo com o bispo dom Jaime Luiz Coelho para usar um salão de festa que estava sob o poder da igreja na barrenta e esburacada Rua Jangada.

Assim, em 1962, no barracão, onde antes aconteciam bailes e fazia paredes-meias com várias famílias, onde a água era tirada de um poço caipira e o mictório, apelidado de casinha, ficava em um terreno baldio do outro lado da rua, foi sede da Escola Isolada Santa Maria Goretti – o nome da santa foi uma exigência de dom Jaime.

A escolinha recebia crianças da Vila 7 e dos sítios próximos, inclusive os filhos de Manfrinato. As primeiras professoras foram dona Guiomar, dona Idalina e dona Nair Loquete Rodrigues, que foi a primeira diretora.

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Nasce a Paróquia Santa Maria Goretti

O funcionamento da Escola Isolada Santa Maria Goretti tem tudo a ver com a criação da paróquia que levou o nome da mesma santa. O terreno em frente à escola, onde ficava o mictório, mais conhecido por casinha, era da Cúria Diocesana e destinado à construção da paróquia. Em 1963 chegou a ser lançada a pedra fundamental, ocasião em que aconteceu uma missa campal no terreno, celebrada pelo padre Raimundo Le Goff, um francês oriundo de família de intelectuais, ele próprio um intelectual que gostava de livros clássicos (em qualquer idioma), música clássica, tocava piano, entendia de vinhos e de charutos.

Mas, a história não é de Antonio Manfrinato? Ele estava lá com sua família toda, foi o encarregado de construir uma tenda para o altar não ficar exposto ao sol. Também fez parte da comissão de construção da igreja e foi um dos que foram conversar com dom Jaime que o terreno era pequeno demais para uma igreja.

Depois dessa conversa, Cúria e prefeitura, dom Jaime e João Paulino, buscaram uma solução para o impasse e foi destinada metade de uma quadra na Avenida Colombo para a construção uma igreja. E assim nasceu a Paróquia Santa Maria Goretti, o templo católico da Vila 7, a igreja que a família Manfrinato frequenta há quase 60 anos.

Neste sábado, a Paróquia Santa Maria Goretti publicou em suas redes uma nota sobre a morte de Manfrinato.

 

 

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