A empresa Blau Farmacêutica foi a mais beneficiada quando ato de Ricardo Barros, esvaziou Hemobrás em 2017. Agora, ela tenta, com o apoio de políticos do PP, intermediar a venda da vacina contra Covid da chinesa Sinopharm para o Ministério da Saúde.
Matéria da Rádio CBN – Veja na íntegra
CÉZAR FEITOZA
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Uma portaria assinada em 2017 pelo ex-ministro da Saúde, Ricardo Barros, esvaziou Hemobrás, a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), e favoreceu empresas do setor privado em contratos com o governo federal para a venda de hemoderivados. A empresa Blau Farmacêutica foi a mais beneficiada com o ato de Barros – e agora ela tenta, com o apoio de políticos do PP, intermediar a venda da vacina contra Covid da chinesa Sinopharm para o Ministério da Saúde.
Em abril de 2017, Barros assinou uma portaria revogando a regulamentação da Hemobrás. A empresa pública era responsável por processar o plasma, a parte líquida do sangue, que é usada para o tratamento de pessoas com queimaduras, hemorragias ou com o sistema imunológico fragilizado.
Com a portaria assinada por Ricardo Barros, a Hemobrás deixou de fornecer imunoglobulina para o Ministério da Saúde, e a pasta foi obrigada a comprar o medicamento do setor privado.
Um dos contratos após a ação em que Ricardo Barros esvaziou Hemobrás foi investigado pelo Tribunal de Contas da União e pelo Ministério Público Federal, e a CBN teve acesso aos documentos.
Em 2018, numa licitação, a farmacêutica Blau ofereceu mais de 300 mil frascos de imunoglobulina para o Ministério da Saúde por um valor superior ao permitido pela Anvisa. Pela legislação, o governo não poderia assinar o contrato – mas, mesmo com os pareceres contrários do TCU, a pasta fechou o acordo de 280 milhões de reais, um aumento de mais de 70% no valor do medicamento.
Um caso semelhante foi denunciado pelo deputado Jorge Solla, do PT. Em 2018, o parlamentar acusou Ricardo Barros de favorecer a Blau Farmacêutica em um contrato para a compra do medicamento Alfaepoetina. O remédio já era produzido pela Fiocruz, mas a pasta comprou o mesmo medicamento por um preço 2.000% mais caro da empresa.
Segundo Solla, a gestão de Ricardo Barros esvaziou os laboratórios públicos para favorecer o setor privado. “Nós vivemos, logo no início do governo Temer, com o ministro Ricardo Barros na Saúde, uma série de ataques às parcerias de desenvolvimento produtivo, especialmente aquelas feitas pela Fiocruz, como o trabalho da Hemobrás. Isso criou uma série de prejuízos, porque abriu um mercado para laboratórios privados, que se aproveitaram desse espaço de contas públicas em prejuízo de uma política bem sucedida, iniciada no governo Lula”, disse.
Desde o começo do ano, a Blau tenta negociar com o Ministério da Saúde a compra de vacinas contra Covid da Sinopharm. O papel da farmacêutica seria semelhante ao da Precisa Medicamentos: intermediar a negociação.
A empresa conseguiu reuniões com o Ministério da Saúde e a Embaixada da China no Brasil com o apoio de políticos do PP: o ministro Ciro Nogueira e o deputado Fausto Pinato.
À CBN, Pinato admitiu que recebeu o pedido de diretores da Blau Farmacêutica para ajudar na interlocução com o Ministério da Saúde. “Um amigo meu falou: ‘Fausto, tem um laboratório que tem condição de fabricar IFA’. O que eu fiz? Eu fui lá para conhecer. Eu cheguei a falar com o presidente da Blau, um gerente lá… Ele me explicou: ‘Tem condições’. E eu entrei. Eu fiz uma reunião oficial com a Embaixada da China, junto com o ministro da Saúde, inclusive. O ministro chegou a mandar uma carta também – o Pazuello’, disse.
A CBN apurou com fontes do Ministério da Saúde que o acordo com a Blau está travado desde julho. Os motivos são a demora para a empresa conseguir a autorização da Anvisa para uso emergencial do imunizante e o preço da dose, que chega a US$ 20.
Agora, auxiliares do ministro Marcelo Queiroga dizem que já há vacinas disponíveis para toda a população, e que a negociação com a Blau não deve avançar.
Em nota, a Blau Farmacêutica disse que atua desde 2011 em licitações de imunoglobulina e que não houve favorecimento à empresa com a portaria assinada pelo ex-ministro Ricardo Barros.
A empresa também afirmou que os representantes da companhia não possuem qualquer associação ou relacionamento com as pessoas mencionadas ou partidos políticos – e que as negociações para a venda de vacinas para o Ministério da Saúde somente devem ocorrer após a Blau conseguir a autorização para uso emergencial do imunizante da Sinopharm.
O líder do governo da Câmara também se pronunciou por meio da assessoria. Em nota, disse que a portaria não teve o condão de esvaziar a Hemobrás, e sim criar uma política sustentável de hemoderivados.
Ricardo Barros também nega que tenha atuado nas licitações em que a Blau saiu vencedora, e que a compra de Alfaepoetina, sem licitação, não foi direcionada, mas economizou R$ 400 milhões dos cofres públicos.
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