A quantidade de pessoas a passar pelo velório do professor Jairo de Carvalho no sábado, dia 10 de abril, no Cemitério Parque de Maringá, foi uma demonstração do quanto ele era querido pela comunidade maringaense e da região. Jairo foi vencido por um câncer diagnosticado apenas três semanas antes. Ele tinha 61 anos e deixa viúva a professora Conceição Franco, a Zica, e a única filha, a jornalista Hortênsia Franco de Carvalho.
Além dos amigos de infância, adolescência, da vila e da vida, estiveram presentes pessoas ligadas às muitas atividades de que Jairo participava, como os grupos de cultura afro-brasileira, pessoal de teatro, cineclube, Partido dos Trabalhadores (PT), de que foi fundador, professores, alunos e funcionários dos colégios em que lecionou em mais de 30 anos e da Universidade Estadual de Maringá (UEM), em que trabalhava há anos e onde foi um estudante ativo na década de 1980, com papel de destaque na movimentação pela gratuidade do ensino nas universidades estaduais do Paraná. Jairo era o presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) na época das manifestações.
Grupos de cantos afros, ligados ao movimento União e Consciência Negra, que ele ajudou a fundar, fizeram apresentações na frente da capela e quando o corpo foi retirado para o sepultamento foi recebido com palmas e gritos e acompanhado com cantos até sepultura.
“Nos meus anos de formação política, iniciada no movimento estudantil, o Jairo era a principal referência, com seu estilo sereno, doce, de agregar e liderar. Era um caso raro de dirigente político desprovido de vaidade e de ambições”, disse o historiador e escritor Reginaldo Benedito Dias, autor de um livro sobre o movimento pela gratuidade do ensino das universidades públicas paranaenses.
Muitos amigos publicaram mensagens nas redes sociais, além de políticos como os deputados estaduais Professor Lemos (PT) e Michele Caputo (PSD), que também foi estudante da UEM durante as manifestações pela gratuidade, o prefeito de Maringá, Ulisses Maia (PSD), deputado federal Enio Verri (PT), vereadores e outros.
O jornalista Verdelírio Barbosa, possivelmente a pessoas que melhor acompanhou a história política de Maringá nos últimos 50 anos, escreveu no Jornal do Povo que “Jairo, professor, oposicionista, líder, ganhou muitas lutas, mas foi derrotado pelo câncer. Não é que lhe faltou forças, é que na terra ele já havia conquistado muitas vitórias e foi chamado por Deus. Quando Deus precisa, ele busca alguém. Ele estava precisando de um lutador, um sonhador, e levou o melhor disponível”.
Uma vida em poucos quarteirões
Pode-se dizer que os 61 anos da vida do professor Jairo de Carvalho transcorreram um raio não superior a 1 quilômetro. Nasceu, em maio de 1959, na Rua Rui Barbosa, próximo onde depois foi criado o Estádio Willie Davids, passou a infância e adolescência na Rua Visconde de Nassau, a poucos metros de onde nasceu, e após casar-se foi morar na Rua Mandaguari, alguns metros adiante.
Estudou no então Grupo Escolar Santa Maria Goretti, Colégio Gastão Vidigal e Universidade Estadual de Maringá (UEM), também tudo muito próximo, e a vida profissional, como professor, foi nos mesmos ambientes: Colégio Santa Maria Goretti, Cebeja e UEM. É possível passar pelos três em apenas cinco minutos andando a pé.
Com 60 anos em um trecho tão pequeno da cidade, conhecia todo mundo na Vila 7, aquela parte da Zona 7 entre a Avenida São Paulo/Morangueira e a Rua Quintino Bocaiúva.