Reza a Lenda Coluna de Luiz de Carvalho

Reza a Lenda… histórias da gente de imprensa de Maringá

… que era fácil saber quando O Diário tinha uma manchete quente: quem passasse pela Vila Operária, Vila Nova ou Jardim Aeroporto veria uma fumaça negra saindo da chaminé do jornal.

É claro que isso é só lenda, mas compreende-se pelo fato de O Diário ser, provavelmente, o único jornal do mundo a ter chaminé. E das grandes, tão gigante quanto a da Sanbra. É que o jornal ocupou um prédio que da década de 1950 à de 1970 pertenceu à indústria Anderson Clayton, e fabricava as margarinas Claybon e Saúde, mais óleo de soja famosos no Brasil inteiro. O terreno tinha 26 mil m², entre a via férrea e as avenidas Centenário e Tuiuti, onde hoje é a estação rodoviária de Maringá.

 

 

… que no final de década de 1970 O Diário tinha dois editores-chefes, um representando o grupo de sócios direitistas, que apoiava o governo militar, e outro representando o sócio esquerdista, Ramires Pozza, que tinha interesse em se eleger deputado federal. Cada editor tinha sua equipe e assim a Redação tinha o grupo da direita e o comunista.

Os dois lados eram formados por profissionais competentes, mas todos os dias, na hora do fechamento da edição, tinha quebra-pau. O editor da direita, o experiente Waldomiro Baddini Neto, queria emplacar a manchete, mas Laércio Souto Maior, comunista declarado, que chegou a ser preso político pelo regime militar, queria manchete dando pau no governo – qualquer governo, federal, estadual ou municipal.

Num fechamento de edição, o que fechou foi o tempo e os dois editores trocaram xingamentos, ofensas, dedos em riste e iam saindo na porrada, quando a turma do deixa disto apareceu e puxou um pra lá, outro pra cá. Laércio foi dar de dedo, mas Baddini esticou o pescoço e meteu o dente no dedo do rival.

Laércio e Baddini sempre se respeitaram e se mantiveram grandes amigos, apesar do incidente. E, é claro, deram boas risadas da palhaçada que protagonizaram.

 

 

O Diário pediu ao jornalista Luiz Carlos Rizzo uma matéria em que analisasse a ocupação de espaços na imprensa escrita de Maringá. Mas, depois, o próprio jornal queria desmentir, xingar e até bater no jornalista.

Rizzo foi o primeiro jornalista formado da imprensa de Maringá. Chegou em 1975 para trabalhar na sucursal da Folha de Londrina e fez amizade com o pessoal do Diário, que era um jornal novo na época. Ele sabia fazer a análise e foi honesto no levantamento, mas os jornais não gostaram da constatação que os títulos puxavam saco de quem estava no poder, matérias mais pareciam assessoria de imprensa, nem sempre ouvia os dois lados da notícia, páginas policiais mais acusavam do que noticiavam…

Foi aí que ele entendeu que nem toda imprensa está preparada para ter um ombudsman.

 

 

 

 

O publicitário Jairo Cajal, que morreu em 2013 aos 61 anos, passou perto de morrer em 1978, com 26 de enfarto e raiva. Em meio a um grupo de políticos em Umuarama, ele se aproximou do governador Jaime Canet Júnior na esperança de ganhar um sorriso e tapinhas nas costas, mas o homem estava soltando fogo pelas ventas, xingou, jogou o exemplar do O Diário na cara de Cajal e, não fosse a turma do deixa disso, teria lhe dado umas porradas.

Cajal era o nome forte do setor Comercial de O Diário e, diante de uma visita agendada de Canet a Umuarama, vendeu  um sem-número de mensagens de felicitações e agradecimento por obras que seriam anunciadas. Mas, na época O Diário era meio direita e meio comunista e naquele dia a manchete foi comunista, metendo a boca nos militares e em Canet. Ele recebeu o jornal às pressas e, sem olhas as manchetes, entregou um exemplar pro governador. Saiu dali direito para o hospital.

 

 

Pouca gente se lembra que Maringá já teve um jornal chamado Diário de Maringá bem antes de O Diário. Era um jornal surgido no final da década de 1950 por iniciativa do jornalista e escritor João Antonio Correia Júnior, o Zitão. Foi no Diário que Verdelírio Barbosa deu início a uma carreira que já se aproxima de 60 anos.

O curioso do jornal do Zitão é que apesar do nome, não era diário. Nem semanário, nem quinzenário… era meio devezemquandário.

 

 

O Danger já não é tão danger assim, mas teve uma época em que ele fazia valer o apelido.

Danger é na realidade Antonio Aparecido Martins, um pacato pai de família famoso na cidade por sua carreira como um dos primeiros e mais competentes fotojornalistas de Maringá. Mas a fama deve-se também à personalidade esquentadinha nos primeiros anos de carreira. Se alguém tentasse impedir uma reportagem, o baixinho se agigantava, esticava o peito, levantava o queixo e as coisas se resolviam. Nas coberturas de jogos de futebol, no Willie Davids, sempre que tinha um quebra-pau, Cido segurava a máquina pelo talabarte e rodava-a no ar. Era um perigo para alguma cabeça e para a máquina.

Havia na época a mania nas Redações de ficar traduzindo tudo para o Inglês. Foi aí que a Maria do Socorro virou Mary Help, Nova Esperança virou New Hope e o Aparecido se consagrou como Danger, o fotógrafo mais perigoso da cidade.

 

 

Um dos melhores jornalistas que Maringá já teve, Francisco Oliveira, o Mini-Chico, era especialista na cobertura do agro e chegou a ganhar um Prêmio Esso pelas reportagens sobre as consequências das geadas de 1975, que dizimaram a cafeicultura no Paraná.

Mas, sua competência limitava-se à cobertura do agro. Em maio de 1977, na festa dos 30 anos de Maringá, foi promovido um torneio de futebol no Willie Davids com a participação do Grêmio de Maringá, Palmeiras e São Paulo. E o Estadão escalou seu repórter Mini-Chico para cobrir a decisão entre os dois clubes paulistanos. Foi a primeira vez que o repórter do Estadão ultrapassou o alambrado do Willie Davids e foi para o banco em que estavam outros jornalistas, como Waldyr Pinheiro, Walter Poppi, Osvaldo Lima, Messias Mendes.

Eram muitos craques no gramado, dois goleiros da seleção, Waldir Peres em um gol e Emerson Leão no outro, bola pra lá, bola prá cá, gritos da torcida, rojões. Chico cutuca Messias e pergunta baixinho: “afinal, qual é o Palmeiras e qual é o São Paulo?”

 

 

Quase ninguém sabe ou se lembra, mas o imobiliarista Pedro Granado foi um dos primeiros colunistas sociais de Maringá. Foi da Tribuna de Maringá, de Manoel Tavares, numa época em que Ibrahim Sued fez com que fatos sem grande importância sobre a sociedade tivessem mais leitura do que o resto do jornal. Mas, um entrevero com o prefeito João Paulino em 1962 quase o fez abandonar a glamourosa profissão para abrir uma imobiliária.

Quem conta a história é Antonio Augusto de Assis, o A.A. de Assis, em crônica no Jornal do Povo. J.P. andava p. da vida com o colunista Ademar Schiavone, que andava lhe cutucando com críticas Jornal de Maringá, ao achar um carro estacionado no meio da Praça do Correio e lhe dizerem que era “do colunista”, o prefeito chamou a polícia e mandou guinchar o Gordini, achando que estava vingado do Schiavone. Foi aí que apareceu o Granado gritando e acenando, querendo saber o porquê de seu carro ser levado. O colunista era outro. Schiavone tinha fusca.

 

 

Órgãos pioneiros da imprensa escrita, como O Jornal e a Folha do Norte do Paraná tinham mais gente trabalhando na madrugada do que durante o dia. Era a época das linotipos, umas máquinas gigantes que fundiam em chumbo derretido linha por linha das matérias.

As linotipos trabalhavam com chumbo derretido em caldeiras que ficavam na própria máquina. Depois de ligada, a caldeira precisava de umas duas horas para o chumbo estar no ponto para ser usado, porém na época da Folha e O Jornal os cortes de energia elétrica eram comuns. “Quando voltava a luz, a gente ficava esperando umas duas horas e quando sentava para trabalhar a energia ia embora de novo”, conta o hoje aposentado Leonardo Melo, que foi linotipista da Folha do Norte muitos anos. “Com isto, a gente passava a noite inteira e boa parte do dia para entregar a edição”, lembra paginador Zózimo Valério Couto, o Bimba. “Quando a gente chegava em casa, estava quase na hora de voltar pro jornal”.

2 thoughts on “Reza a Lenda… histórias da gente de imprensa de Maringá

  1. Boas lembranças.
    Só que Rizzo não formado em Jornalismo. Ele é formado em História, pela UEM. Trabalhou por vários anos em O Estado do Paraná, em Maringá.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *