Shopping dos Pobres é sucesso nos bairros pobres de Sarandi

Catadora de recicláveis separa mercadorias de valor para vender por preços simbólicos nos bairros pobres de Sarandi; a carrocinha é aguardada com ansiedade e as freguesas, tenham ou não o dinheiro em mãos, voltarão para casa levando alguma coisa que será útil para elas ou para outros membros da família

 

Luiz de Carvalho

 

Blusas, blusinhas, blusetes, calças, shorts, roupas íntimas, sapatos, sandálias e, se a freguesa estiver em dia de sorte, pode levar para casa uma bela panela de pressão por apenas R$ 10. Tem ainda exemplar novíssimo do “Código da Vinci”, brinquedo para criança, uma roupa de cama, perfume, utensílio de cozinha. É a carrocinha de novos e usados da Maria Aparecida Rotela, mais conhecida como Shopping de Pobre ou Brechó da Cida.

Os artigos oferecidos por Maria Aparecida Rotela são doações feitas por amigos e conhecidos

O nome é o que menos importa. Para a Cida, a carrocinha de novidades é apenas um jeito ganhar uns trocados e ajudar as freguesas a comprar por preços que ninguém acredita.

O “shopping” é itinerante. Está um dia aqui, outro ali, às vezes acolá, mas sempre debaixo de alguma árvore frondosa em alguma esquina dos bairros pobres de Sarandi, na Região Metropolitana de Maringá, principalmente na região do Jardim Universal. Funciona das 8 ao meio-dia ou até acabar o estoque. Se chover, não tem expediente. Se o fiscal chegar, também não, aí tem correria.

A abertura acontece a cada 10 ou 15 dias, porque a Cida precisa de tempo para juntar a mercadoria. Tudo o que ela põe para vender é ganhado por pessoas que querem ajudá-la.

Aparecida Rotela é uma catadora de recicláveis, que percorre as ruas de Sarandi e, às vezes, de Maringá com uma carrocinha em busca de material que possa render um dinheirinho nas cooperativas de catadores.

A mesma carroça usada na coleta de recicláveis é a do shopping dos pobres. “Muita gente já me conhece, respeita meu trabalho e procura me ajudar, porque sabe que tenho muitas despesas com a filha autista que adotei e precisa de atendimento especial”, conta a catadora. “Como vendo tudo por preços simbólicos, todo mundo sai ganhando, as freguesas porque pagam barato, eu porque ganho um dinheiro extra”.

Maria de Lourdes, uma dona de casa que mora no Jardim Bom Pastor, é freguesa há mais de 10 anos e se tornou praticamente amiga da catadora. Nesta semana, ela comprou um par de sandálias de segundo pé, umas blusinhas e um exemplar do livro ‘O Símbolo Perdido’, de Dan Brown, mesmo autor de ‘O Código da Vinci’, quando o shopping da Cida estava na esquina da Avenida São Paulo Apóstolo com a Rua Andrômeda. “Os preços são ótimos, mas ao comprar estamos pensando que ela precisa desse dinheiro extra para as despesas com a filha autista”, diz.

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