Luiz de Carvalho
O Homem do 120. Assim era chamado o empresário Alaydio Gaspar na década de 1960, quando foi candidato a vereador e acabou integrando a Câmara de Maringá na legislatura que fez história por, dois anos depois de eleita, gerar três deputados federais – Ary de Lima, Wilson Brandão e Walber Guimarães – e um deputado estadual, o cartorário Antonio Facci.
Os mais novos podem estranhar o nome, mas os maringaenses mais antigos certamente se lembram que os termos “120” e “130” denominavam os extremos de Maringá pela BR-376 (Avenida Colombo). O Km 120, na divisa com o município de Marialva – Sarandi ainda não existia –, ficava separado da área urbana por fazendas de café a partir da Avenida Tuiuti, e era lá que ficava o histórico Posto 120, de propriedade de Gaspar.
Na eleição de 1968, Gaspar teve votos em 151 das 153 urnas do município, mas nas fazendas que existiam onde hoje estão o Jardim Internorte, Vila Nova, Vila Morangueira, Jardim Liberdade e Jardim América ele foi disparado o mais votado, com números comparáveis aos dos dois principais candidatos a prefeito, Adriano Valente e João Paulino.
Tubarão X Pé-de-chinelo
Alaydio era novato em política e virou candidato por insistência do grupo que lutava para criar na cidade o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) após o golpe militar de 1964 acabar com todas as legendas partidárias existentes até então. “Alguns dos principais líderes políticos maringaenses, como Renato Celidônio, Silvio Barros, Renato Bernardi e Walber Guimarães, me procuraram para participar da criação do MDB e acharam que eu tinha certa liderança naquela região da cidade para ser candidato a vereador”, conta.
Já estava certo que o candidato a prefeito pela Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido ligado ao governo militar, seria o então deputado federal João Paulino, nome mais forte da política local, e o MDB não tinha ninguém forte para enfrentar JP. “Fomos em caravana convidar o doutor Adriano [Valente], que tinha perdido a eleição anterior e estava sem partido”.
O novo partido precisava ter candidatos à Câmara para fazer legenda e o dono do Posto 120 decidiu testar sua popularidade e acabou eleito no pleito em que o advogado Adriano Valente, com a política do pé-de-chinelo contra o tubarão, derrotou João Paulino.
Inspiração paterna
A liderança de Gaspar na época vinha do fato de ser morador antigo, desde a época em que Maringá ainda era distrito de Mandaguari, mas muito foi inspirado no seu pai, João Augusto Gaspar, um português que era empreiteiro em fazendas de café no interior de São Paulo, na região de São José do Rio Preto, e veio conhecer Maringá em 1949 a convite de um corretor de terras da Companhia Melhoramentos.
“Nosso contrato de empreitada tinha terminado e viemos conhecer as terras roxas do Paraná, meu pai, eu e o dono da fazenda em que trabalhávamos”, conta Alaydio. “Quando vimos o vigor da terra e as cidades nascendo no meio da mata, ficamos doidos. Maringá estava começando, mas era uma loucura, com tantos caminhões de mudança chegando, empresas nascendo daqui e dali, casas sendo construídas, bairros sendo abertos. Não pensamos duas vezes”.
O português comprou uma casa na Vila Santo Antonio e terra para formar um cafezal na região de Nova Esperança. Foi na Santo Antonio que Alaydio, na época um garoto de 16 anos, o mais velho de nove irmãos, viu a liderança do pai. “A vila era nova e faltava quase tudo”, conta. “A Escola Rodrigues Alves ficava próxima à igreja e não tinha salas em número suficiente para todos os alunos e a região ainda não tinha energia elétrica. Meu pai procurou um deputado de Cambé – Maringá ainda não tinha representantes na Assembleia ou Câmara dos Deputados – e foi ao governador Moisés Lupion, em Curitiba. Rapidamente o governo construiu novas salas na escola e mandou alguns grupos geradores para gerar energia para a área urbana”.
Trabalho
Hoje, aos 86 anos, 70 deles vividos em Maringá, Alaydio Gaspar continua trabalhando na abertura de loteamentos ao lado do filho Carlos Roberto, engenheiro em Cianorte e com empreendimentos em várias cidades, dirige seu carro na cidade e em longas viagens e diz que ainda pretende trabalhar por muito tempo. “Trabalho desde moleque. Desde as lavouras de café do Estado de São Paulo, depois em Maringá, onde fui vendedor da Casa Andó, depois bancário, gerente de banco, tive máquina de arroz, posto de combustível, trabalhei em outras áreas e nunca parei”.
Neste tempo, o empresário casou, teve cinco filhos e continua torcendo pelo desenvolvimento de Maringá. Não pensa mais em política. Viu todas as eleições de Maringá, de Inocente Vilanova a Ulisses Maia, mas diz que se desiludiu depois que viu seu MDB, hoje PMDB, inchar com gente cuja ideologia não coaduna com a do partido original.