Muito antes da Tuiuti chegar, Antonio Lucas e a família já estavam lá

Luiz de Carvalho

 

Muito antes de a Avenida Tuiuti cruzar a Avenida Colombo e espalhar dezenas de loteamentos naquela parte da zona norte de Maringá; muito antes de o engenheiro Alexandre Rasgulaeff morrer e se tornar nome de uma das principais vias da cidade, Antônio Marcos Lucas já vivia onde hoje se encontram as avenidas Tuiuti e Alexandre Rasgulaeff. Da esquina das vias famosas, ele pode olhar ao redor e ver que centenas de famílias vivem, atualmente, em terras que foram de propriedade dele,dos irmãos e dos pais. E nem sabem disso.

Antonio Lucas continua vivendo na sua zona rural em plena área urbana

Antônio Marcos e o irmão Geraldo Eliseu eram dois rapazotes quando chegaram, acompanhando os pais, dona Domênica e o pioneiro Emílio Lucas, um italiano que, desde menino, trabalhava com café e no fim da década de cinquenta do século passado comprou um sítio de cinco alqueires, após a repartição da antiga Fazenda Santa Alice. Antes a família vinda de Presidente Prudente já estava desde 1942 onde hoje é Sarandi e na época era zona rural de Marialva.

Emílio tinha feito um excelente negócio, pois o cafezal já estava formado e cabia à família Lucas apenas fazer a colheita todos os anos.

“Estávamos acostumados à vida rural e nada causava estranheza”, diz Antônio. Não intrigava, por exemplo, que o comércio mais próximo fosse a Casa Fuganti, no Centro, alguns quilômetros distante, com sol ou barro, de carro, carroça ou cavalo. Não incomodava que não tivesse escola por perto, nem qualquer unidade de Saúde. A igreja mais próxima ficava na estrada Guaiapó ou na Venda 200.

“Para quem vive na cidade, é difícil entender que estas distâncias não eram problema e ainda tínhamos muito com que nos divertir, como as partidas de futebol dos fins de semana, festas de igreja e o carteado em nossa própria casa ou na casa dos amigos”, conta. “Tinha gente que vinha de sítios ou fazendas distantes para um joguinho aqui em casa”, recorda Antônio.

 

Adeus aos vizinhos

Ali, vizinho de desbravadores como as famílias Taguchi, Falavinha, Tanaka, Tukuda, Ramiro, Zé Português, Alexandre Rasgulaeff  e Alfredo Nyffeler, o garoto de 22 anos formou família, criou seis filhos e viu o cafezal que cobria a região ser torrado pelas geadas de 1975, virar lenha em 1976 e ser substituído por milho, algodão, arroz e trigo a partir de 1977. Um pouco mais tarde chegou a soja, que dominou a região.

Nos anos seguintes, Antônio viu sitiantes e fazendeiros vender as terras e irem tentar a sorte em outras regiões ou simplesmente mudar-se para a cidade para se aventurar em outros ramos. Muitos foram para áreas novas no Mato Grosso, Rondônia e no sertão de Goiás, onde nasceu o Estado do Tocantins.

Também nos anos seguintes viu a Avenida Tuiuti – que antes era apenas alguns quarteirões entre a Praça Souza Naves e a Avenida Colombo, com poucas construções – ser aberta em direção ao norte, onde antes era só café. Era a expansão da Vila Morangueira e o nascimento de bairros como os jardins Pinheiros, Dourados, Oásis, Novo Oásis, Itaparica, Paulino Carlos, Santa Alice, São Francisco, Batel, Champagnat, Campos Elíseos e Piatã. E o sítio dos Lucas teve parte desapropriada, uma das casas teve que ser demolida, para a passagem da nova avenida.

Com a transformação do antigo cafezal em área urbana, a família Lucas viu que seria vantagem lotear a propriedade. A Loteadora Santa Alice se encarregou de transformar a área em dezenas de datas e os Lucas investiram o dinheiro da venda na compra de alguns alqueires na terra roxa, plana e fértil de Itambé, onde há quase 25 anos planta soja e milho safrinha.

Parte da família Lucas

“Vendemos, mas eu quis ficar com um pedaço do nosso antigo sítio, este pedaço onde nasceram meus filhos, meus netos e agora os bisnetos”, conta Antônio, que mantém uma área de quase três hectares no coração da zona norte, cercada de empresas e moradias.

“Somos gente do campo, passamos toda nossa vida lidando com plantações, por isso, faço questão de manter uma chácara aqui, mesmo que toda a área em volta esteja bastante valorizada”, diz.

Segundo ele, ali tem o que todo roceiro quer: espaço aberto, área para manter mangueiras, abacateiros e outras árvores frutíferas, cana, mandioca, um pouco de milho e a horta que abastece as casas dele e dos filhos, tudo produzido sem adubos ou defensivos químicos.

O chacareiro urbano diz que leva a vida que muitos gostariam: poder viver no campo com todos os benefícios de estar na cidade. Afinal, a chácara dele está na esquina das duas avenidas mais importantes daquela área da cidade, a Tuiuti e a Alexandre Rasgulaeff, ambas abertas pegando parte da propriedade dos Lucas.

“Esta região não era cidade nas primeiras décadas que vivemos aqui, sabíamos que Maringá ia crescer, mas não imaginávamos que toda esta área viraria cidade por tão cedo. E o perímetro urbano chegou com a infraestrutura que podemos encontrar em qualquer bairro da cidade, inclusive no Centro”, destaca.

A lamentação do pioneiro é que, ao chegar aos 80 anos, muitos dos amigos antigos já morreram ou foram embora. “Perdemos amigos antigos, mas chegaram muitas famílias, onde pudemos encontrar novos amigos”, ressalta.

 

Loteamento de fazendas deu
origem à zona norte de Maringá

A região conhecida por Tuiuti – não há na cidade um bairro com esse nome – é formada por mais de 10 bairros e se originou de fazendas formadas a partir de 1938, como a do desbravador Mitsuzo Taguchi, um dos primeiros moradores de onde nasceu Maringá.

A parte que leva o nome de Vila Morangueira pertenceu ao gerente da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, Alfredo Werner Nyffeler, que recebeu a área onde implantou a Fazenda Maringá, como parte dos pagamentos a que tinha direito na empresa que colonizou a cidade.

Todas as fazendas na margem norte da rodovia federal (hoje Avenida Colombo) eram de diretores da Melhoramentos, recebidas como pagamentos.

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