Antenor Sanches

Antenor Sanches, o homem da bronca, há 70 anos cuidando da história de Maringá

Ele tem aparência tranquila, gestos comedidos, fala mansa, se dá com todo mundo e nem de longe lembra alguém irascível, mas por muitos anos foi apontado nas ruas de Maringá como “o homem da bronca”. E foi com esta fama que Antenor Sanches se tornou recordista de permanência na Câmara de Maringá, com função de vereador desde a segunda eleição da cidade, em 1956, até 1988, e só deixou de ser eleito mais vezes porque parou de disputar eleições por conselho de um amigo médico.

O homem da bronca é na realidade o pacato Antenor Sanches, o funcionário público municipal aposentado de 88 anos que ao longo de seus quase 70 anos em Maringá deu várias provas de amor à cidade. Foi ele quem cunhou o epíteto “Cidade Canção”, escreveu quatro livros sobre a história e histórias de Maringá, teve grande participação na criação da Divisão do Patrimônio Histórico e é o fundador da Associação dos Pioneiros de Maringá, entidade que conseguiu que todas as famílias que estão na cidade desde a época da fundação tenham pelo menos um dos seus membros nomeando rua, avenida ou praça.

O apelido “Homem da bronca” é resultado de um programa radiofônico que apresentou por vários anos, “A Voz do Povo”, em que em um quadro fazia cobranças às autoridades, o povo participava reclamando de problemas em seus bairros e geralmente as autoridades compareciam para anunciar providências.

O programa era daqueles de audiência obrigatória, pois além das notícias da cidade e região, tinha também os recados enviados para moradores de uma vasta região do Paraná em uma época em que o rádio era o principal veículo de comunicação de massa. Quem andasse a pé por uma rua, poderia acompanhar o programa inteiro ouvindo os rádios de casa em casa, todos sintonizados no mesmo programa.

“O rádio me deu grande conhecimento e, como era um programa de prestação de serviços, me tornei um porta-voz da população”. A fama levou Antenor à política e aos 28 anos ele foi eleito vereador e passou sete legislaturas na Câmara, sendo até hoje o recordista em mandatos.

“Eu vim a Maringá a primeira vez, em 1947, para conhecer e acabei ficando”, conta. Ele morava em Caçador, em Santa Catarina, onde tinha uma agência de distribuição de jornais e revistas, e veio a Maringá a convite do corretor da Companhia de Terras (Melhoramentos) Vicente Vareschini, mas aqui conheceu a irmã de Vicente, Lucrécia, uma jovem professora da primeira escola de Maringá, se apaixonaram, ele passou a encarar horas e mais horas de ônibus duas vezes por mês entre Caçador e Maringá e se casaram. Com o casamento, Antenor teve que mudar de vez para Maringá. “’Mas, vou viver de quê aqui?’, perguntei, mas o Vicente me convidou para abrir, com ele, um escritório de corretagem, pois a Melhoramentos na época só tinha representação em Londrina e queria que ele começasse um escritório aqui para vender terras para gente do Brasil inteiro que procurava a terra roxa do Paraná para plantar café”.

O fato é que, por ter conhecido Lucrécia, Antenor nunca mais pensou em sair de Maringá. Aqui foi tudo o que quis: marido, pai de seis filhos, funcionário público, radialista e vereador autor de cerca de 300 leis. “Não tenho porque ter pensado em viver em outro lugar, pois tenho consciência de que, de forma simples e humilde, contribuí para a formação da cidade. Quando eu cheguei só existiam os poucos quarteirões que hoje são o Maringá Velho e vi a derrubada da mata para a implantação do Maringá Novo, vi a chegada do trem, de famílias de várias partes do Brasil e do mundo, enfim, vi o pequeno lugarejo se transformar em uma das melhores metrópoles do Brasil e eu fiz parte de tudo isto”.

Em 2010, Antenor Sanches foi o entrevistado do jornalista Antonio Roberto de Paula para a TV Girafa, a primeira TV de Maringá na Internet.

3,5 mil

é a quantidade de famílias cadastradas como pioneiras após levantamento feito pela prefeitura

 

*Esta matéria foi publicada no jornal O Diário do Norte do Paraná em 2016

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