A memória que nunca falha é um dos principais patrimônios do pioneiro Francisco Ferreira da Silva, que aos 90 anos é capaz de descrever com detalhes como era o Maringá Velho em 1944, quando chegou com 14 anos, nomes e sobrenomes dos membros das 10 famílias que moravam no lugarejo, o lugar de cada casa, cada comércio, o que aconteceu, como aconteceu quando, onde e porquê aconteceu cada fato da então pequena comunidade.
Ao lado da esposa, a também pioneira Jesuína Artal, com quem está casado há 66 anos, seu Chico se diverte recordando as pessoas e os fatos que ficaram na história de Maringá e dos seus 76 anos aqui vividos. Boa parte destas conversas acontecem dentro do carro do casal, um Fiat Palio que Chico dirige pela cidade que ele viu nascer e crescer. “Não tenho nenhuma dificuldade para dirigir num trânsito como este, muito diferente de quando comecei a dirigir pequenos caminhões em 1944, levando mercadorias para as fazendas, ou quando tirei a carteira quando o Trânsito foi instalado na cidade, em 1949”. Ele foi um dos primeiros maringaenses a fazer carteira de motorista na cidade.
Seu Francisco ainda era Chiquinho quando chegou, com 14 anos. A família morava em Mandaguari e um amigo o convidou para ajudar a abrir uma pensão onde estava nascendo Maringá. O negócio não deu certo, o amigo foi embora e Chiquinho ficou trabalhando de vendedor em uma pequena loja que o comerciante Ângelo Planas estava abrindo no meio do primeiro quarteirão da cidade. Depois, Planas construiu a Casa Planeta, com 11 portas, e Chiquinho trabalhou lá por 10 anos.
“O serviço me fez conhecer muita gente”, diz. “Como eu sabia dirigir, era quem fazia a entrega das compras nas fazendas e nas comunidades rurais, conhecia do dono da fazenda ao mais humilde empregado”.
O saber dirigir colocou mais uma glória para Francisco. Era ele o encarregado de buscar o único padre de Maringá, o padre alemão Emílio Scherer, que morava em uma fazenda, para celebrar missas no Maringá Velho, quase sempre em descampados ou em casas dos pioneiros. O padre não falava muito – até porque devia dominar pouco o Português e porque seu país de origem era apontado como o causador da guerra mundial que o mundo vivia naqueles dias -, mas o motorista Francisco foi uma das pessoas mais próximas a ele.