Maringaenses que liam os jornais da cidade na década de 1970 e, depois de um interregno, também na de 1980 ainda se lembram que um dos textos mais lidos da época era da coluna do Visconde do Ingá. A coluna era uma das mais lidas do O Diário do Norte do Paraná, embora não tivesse nenhuma foto e não fazia fofocas.
O Visconde não puxava saco de poderosos, não era amigo de políticos, não dava atenção a empresários e nem sequer tinha salário no jornal para manter a coluna. Não freqüentava a alta roda, não ia à Boca Maldita e nem era visto nos botecos. Aliás, não era visto em lugar nenhum, nem no jornal.
Numa época que ainda não existia internet, ninguém sabe como seus textos, cuidadosamente dactilografados em laudas de 23 linhas de 70 toques, chegavam à Redação.
Entre os funcionários do O Diário, principalmente as moças, havia uma curiosidade tremenda sobre como seria a aparência do Visconde do Ingá. Seria louro, moreno, negro, alto, magro, careca, cabelos cacheados? Seria rico, estudado, como seria o carro dele, ou a bicicleta?
O Visconde do Ingá começou a escrever no O Diário em 1975, depois que o primeiro editor-chefe, Rubens Ávila, brigou com o dono do jornal, Joaquim Dutra, e seu substituto, Wilson Serra, deixou a empresa para assumir um cargo de direção em uma importante rede de televisão. Ainda no primeiro ano de existência do jornal, o terceiro editor-chefe (na época, a nomenclatura era “Redator-Chefe”) foi Waldomiro Baddini Neto e assim que ele assumiu começou também a coluna do Visconde.
Era o próprio Baddini quem entregava as laudas do Visconde às moças da Composição. Ele próprio revisava o trabalho das digitadoras e, por vezes, resolvia fazer modificações no texto sem sequer perguntar ao autor se podia mudar. Havia uma cumplicidade estranha entre os dois, pois o Visconde nunca reclamou das canetadas de Baddini. Tão estranha que quando Baddini Neto também brigou com Joaquim Dutra e resolveu se mudar para Umuarama, onde assumia a Editoria da Tribuna do Povo, de Walter Sucupira, o Visconde parou de escrever para O Diário.
Lá na Capital da Amizade, Baddini fez amizade com gente esquisita, todos jornalistas, como o colunista social Ítalo Fábio Casciolla, Waldir Miranda, Chico Bonato, Alberto Romeu e Luiz de Carvalho, que na época era da sucursal da Folha de Londrina e depois assumiu a Assessoria de Imprensa da prefeitura, na administração Jorge Vieira. Curiosamente o Visconde se tornou colunista da Tribuna, nunca apareceu na Redação, não era visto nos botecos, mas abordava justamente os assuntos discutidos por Ítalo, Bonato, Miranda, Carvalho e os outros, além do Baddini, evidentemente.
Baddini se encheu da turma de Umuarama, foi para Cascavel, depois para…, depois para… e acabou voltando a Maringá. Seu fiel escudeiro também.
No começo de 1989, o jornalista Waldomiro Baddini Neto morreu, com apenas 51 anos de idade e no ponto alto de sua produção jornalística. Seu amigo misterioso Visconde do Ingá deve ter ficado muito triste, tanto que nunca mais publicou nada na imprensa. Não foi só tristeza. Foi fidelidade.
Lá se vão 32 anos e nada do Visconde. Será que ainda está vivo? Onde?
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