Rubens Ávila fez história no jornalismo de Maringá com competência, ética e liderança

Quando o jornalista Rubens Ávila foi convidado para dirigir a Redação do O Diário do Norte do Paraná, na criação do jornal em 1974, ele já tinha uma longa carreira no jornalismo maringaense como editor de O Jornal de Maringá desde o início da década de 1960 e depois na chefia da sucursal da Folha de Londrina. Antes disto tinha trabalhado em Londrina e no Rio de Janeiro.

Rubão, como era conhecido por causa da altura, chegou em Maringá como representante da empresa Copralon, de Londrina, que entre os produtos mais famosos representava o refresco em pó Q Suco e os sorvetes Kibon. Ninguém lembra direito o que aconteceu com a representação, sabe-se que pouco tempo depois Ávila assumiu a Redação do O Jornal de Maringá. Depois foi para a sucursal da Folha de Londrina.

Jornalista Rubens Ávila, em primeiro plano, com o prefeito Silvio Barros e o reitor da UEM, Rodolfo Purpur

Quando da criação de O Diário, em 1974, Joaquim Dutra e seus sócios consideraram que Ávila tinha o perfil ideal para dirigir a equipe da Redação, especialmente por ser bem relacionado com a classe política e famoso por não admitir interferências na linha jornalística. E foi por não admitir interferências que se desentendeu com Joaquim Dutra poucos meses depois da inauguração do jornal e acabou demitido por Dutra.

Mas, os dois voltaram a trabalhar juntos pouco depois, só que como diretor de Jornalismo da TV Cultura, emissora criada por Dutra e seus sócios. Foi ele que criou todo o jornalismo da emissora desde a época em que a TV não tinha uma programação definida e exibia programas de redes diferentes. A dificuldade enfrentada foi que toda a equipe era oriunda do jornalismo impresso e precisava adaptar-se ao formato de texto próprio para televisão.

Ele chegou a assumir um cargo no Jornalismo da Rede Paranaense de Comunicação (RPC) em Curitiba e teve passagem também pela TV Coroados, de Londrina.

O veterano Manoel Messias Mendes de Almeida é um jornalista genuinamente maringaense: começou a trabalhar ainda criança, foi contínuo/office boy, auxiliar de Redação, repórter, redator, editor, mas nunca trabalhou em outro ambiente que não fosse jornal. E foi nesse meio que ele conheceu Rubens Ávila.

Messias era criança quando trabalhou com Rubão no O Jornal e muitos anos depois voltaram a trabalhar juntos na TV Cultura. “Foi meu grande mestre, a quem devo tudo o que aprendi de jornal”, diz Manoel Messias, hoje aposentado e ocupado o tempo que sobre para falar de política em um blog.

O apresentador Sandro Dalpícolo, da RPC em Curitiba. lembra de Rubens como um piadista. “Foi uma inspiração pra uma geração inteira. E fez graça até na hora de partir. Foi embora num 23 de abril, o mesmo dia em que nasceu”.

TV artesanal

É bem possível que em Maringá e região Rubens Ávila seja mais lembrado por sua passagem pela direção do Jornalismo da TV Cultura de Maringá, hoje conhecida somente como RPC. E com razão, pois foi o trabalho em que ele permaneceu mais tempo.Na função, ele tinha grande influência junto à classe política, era paparicado por prefeitos, deputados e outras autoridades. Mas, o fazer Jornalismo na TV Cultura do início dos anos 1970 não era tarefa fácil, porque a repetidora da Globo em Maringá, que cobria metade do Estado, estava longe de poder ser considerada uma TV. Antes, estava mais para uma rádio com imagem. Imagem ruim, diga-se.

A TV Cultura teve que virar TV de uma hora para outra. Ele tinha sido criada em 1974 pelo mesmo grupo que dominava a área de rádios na região, a Rede Paranaense de Rádio, que tinha à frente os empresário Samuel Silveira, Joaquim Dutra e Carlos Piovezan. A emissora começou a funcionar precariamente no prédio onde antes tinha funcionado o Colégio Filadélfia, na Rua Santa Joaquina de Vedruna, mas era um negócio despretensioso, com um sinal péssimo, som péssimo e programação idem. Em alguns momentos passava material gravado da TV Bandeirantes, outras vezes era da Record, outras apenas programas como Mundo Animal e outros documentários que se a pessoa perdesse hoje não teria problema, pois repetiria amanhã, depois de amanhã e assim por diante.

A audiência era quase nenhuma, pois o maringaense, com as antenas gigantescas em cada casa, tinha a opção de assistir a programação Globo pela TV Tibagi de Apucarana ou Tupi pela Coroados de Londrina.

Mas, por uma jogada do destino, o ex-governador Paulo Pimentel, dono da Tibagi de Apucarana e Iguaçu de Curitiba, teve problemas com o governo militar e o castigo foi perder a concessão da Globo em suas tevês. A Globo teve que improvisar a saiu à cata de quem pudesse retransmitir seu sinal. O negócio caiu no colo do empresário Francisco Pereira, dono de uma TV em Curitiba e do jornal Gazeta do Povo. Chiquinho, como era conhecido, não perdeu a oportunidade e convidou o grupo de Maringá como sócio, com a proposta de transformar aquela coisa que não chegava ainda a ser uma tevê em tevê de verdade, com condições para ser Globo.

E assim, somente duas tevês no Paraná transmitiam Globo, uma em Curitiba, que cobria o sul do Estado, e a de Maringá, que cobria a outra metade do Paraná.

Rubens Ávila e Joaquim Dutra, novamente juntos

Rubens Ávila tinha sido o primeiro editor do jornal O Diário do Norte do Paraná, do mesmo grupo que fundou a TV Cultura, e a saída de lá foi bastante complicada: briga com o dono, Joaquim Dutra. É que Dutra era acostumado a mandar demais e encontrou uma pedreira em um editor que não admitia interferência no jornalismo.

Ávila foi convocado para implantar o jornalismo da TV em transformação, aceitou o desafio, mas antes deixou claro que não aceitaria interferência do Comercial, nem política e nem dos donos na linha jornalística. Joaquim Dutra engoliu atravessado, mas não tinha alternativa melhor. Por isso, ele nunca ia à emissora.