Waldomiro Baddini Neto

Waldomiro Baddini Neto, editor do O Diário e suspeito de ser pai do Visconde do Ingá

Jornalista que assumiu a editoria do O Diário do Norte do Paraná quando a publicação tinha menos de um ano – ele foi o terceiro editor -, Waldomiro Baddini Neto se colocava publicamente como jornalista de direita e não escondia o apoio ao governo militar ou qualquer outra forma de governo. Mas, deixava claro que “ser de direita não significa ser fascista”.


Dono de um texto escorreito, Baddini foi o jornalista que ensinou os maringaenses que Editorial de jornal não precisa ser uma chatice só para ocupar espaço. Além do Editorial, fez grande sucesso na página 2 de O Diário a coluna assinada pelo Visconde do Ingá, um colunista anônimo, mas que sumia quando Baddini mudava-se para outra cidade e reaparecia quando ele voltava.

 

Primeiro, a equipe


Uma das características marcantes de Baddini era como líder de equipe. Ele defendia seus repórteres contra quem quer que fosse, inclusive contra os donos do jornal ou políticos e empresários que se atrevessem a culpar repórteres por esta ou aquela matéria. “Vou defender minha equipe até o inferno”, dizia ele. “Se o repórter exagerou ou cometeu algum erro, primeiro o defendo, depois como o rabo dele, mas ninguém de fora dá palpite aqui”.

Waldomiro Baddini Neto - antiga sede de O Diário Maringá

O Diário na época de Baddini funcionava no prédio onde foi uma indústria de manteiga, tinha até chaminé Foto: Autor desconhecido

 

Todas as noites, assim que fechava a edição, Baddini enchia sua Belina amarela com repórteres, diagramadores, fotógrafos e outros profissionais e ia comemorar em algum bar, de preferência um que tivesse mesa de sinuca.


No boteco, surgia o Baddini piadista, o declamador, o cantor de músicas mais antigas do que ele, o tocador de gaita de boca e de escaleta. A única regra era que não se falasse em trabalho.


Jessé Vidigal, que fez parte da primeira equipe de diagramadores de O Diário, lembra bem da liderança de baddini na Redação e no boteco, onde se comorava o fechamento de mais uma edição. Segundo ele, o bar preferido do Véio, como era chamado, era o Pingo de Ouro, que na época funcionava no Centro Comercial, na Praça Raposo Tavares.

 

Esquerda e direita na mesma sala e a mordida no dedo


Quem conheceu a Redação do O Diário nos primeiros anos da publicação, quando o jornal ainda funcionava em um prédio que tinha sido uma indústria de manteiga onde hoje é a estação rodoviária de Maringá, se lembra que as mesas com as máquinas de escrever ficavam em fileiras, uma na direita da sala, outra na esquerda.


Havia motivos para isso. É que O Diário na época era um jornal de extrema direita, lambe-botas dos militares, e, ao mesmo tempo, de extrema esquerda, daquela de apoiar movimentos como o MR8.


Pode ser difícil entender isso, mas foi assim. O jornal era do grupo liderado por Joaquim Dutra, com seu grupo atrelado aos militares, mas na primeira crise saiu procurando sócios e quem comprou a metade foi o empresário Ramirez Pozza, de uma rica família do setor imobiliárioo e que tinha pretensões eleitorais. E Ramirez era de esquerda e por não concordar em colocar seu rico dinheiro em um negócio tão direitista, quis mudar a linha do jornal, não conseguiu. Mas, deu um jeito: contratou uma equipe de jornalistas esquerdistas. O grupo era capitaneado pelo professor e escritor Laércio Souto Maior, que foi preso político e era ferrenho defensor da linha de Luiz Carlos Prestes.


Faziam parte da equipe vermelhinha jovem acadêmico de Direito e intelectual Ernesto Piancó Morato, o cartunista José Carlos Struett, Anésio Foleiss, Pedro Chagas Neto, Manoel Messias, Luiz Carlos Rizzo, Edilson Pereira e Ângelo Rigon, que na época ainda era menino. 


A equipe de Baddine, no lado direito da sala, era composta só de jornalistas de direita. Curiosamente, os jornalistas da esquerda só conversavam entre eles próprios, os da direita, ídem.


Porém – e sempre tem um ‘porém’ nesses casos – a mesma hora de fechar a edição era a de fechar o pau. Toda noite tinha briga: Baddini queria impor sua manchete. Souto Maior também. E era “seu vendido” pra lá, “comunista!” pra cá, “quem manda sou eu”, “sou eu quem mando”. 


Chegou ao ponto de em um fechamento de edição Laércio deu de dedo na cara de Baddini e esse aproveitou e mordeu o dedo do editor da esquerda.

Baddini Neto

Parte da esquerda da Redação de O Diário: o repórter Edilson Pereira e, ao fundo, Laércio Souto Maior com o indicador mordido por Baddini Neto Foto: Sérgio Jacques


A discussão acabou com muita risada e nunca mais o fato foi esquecido. Os dois editores fizeram as pazes e conviveram até que o jornal foi vendido e novo dono não estava interessado em nada extremo, principalmente em tratando de direita e esquerda.


“Tínhamos ideologias muito diferentes, nossos patrões também, mas sempre tive grande admiração pelo Baddini, um dos grandes profissionais de jornalismo que Maringá já teve”, diz Laércio S0uto Maior ainda hoje.

 

De rádio-escuta para o impresso


Nascido em Sorocaba, São Paulo, Baddini fez carreira em Londrina, onde passou pela imprensa escrita e destacou-se nas maiores emissoras de rádio numa época em que as AMs eram o veículo de comunicação mais popular.


E foi em rádio que ele começou, ainda menino. Como tinha bom texto, era o garoto que escrevia noticiários, mas para saber das notícias do Brasil inteiro munia-se de um gravador Akai, que era um objeto do tamanho de um forno microondas, com um rolo de fita magnética do tamanho de um prato.


Com um rádio de Ondas Médias, ouvia os jornais das grandes emissoras do Brasil, gravava no Akai e depois fazia pequenas notas que eram lidas pelo locutor do horário.


Do jornal de rádio, migrou para o jornal impresso e logo virou chefe de Reportagem e, na sequência, editor.


Além do O Diário do Norte do Paraná, em Maringá, dirigiu Redações de jornais em muitas cidades, como Umuarama, onde foi editor-chefe da Tribuna do Povo, de Walter Sucupira, e fez parte da equipe que implantou O Paraná, em Cascavel. De volta a Maringá, trabalhou na Folha de Maringá e no Jornal do Povo.


Waldomiro Baddini Neto morreu em 30 de janeiro de 1989, com 51 anos, e foi sepultado na cidade que ele mais amava entre todas em que trabalhou. Suspeita-se que o Visconde do Ingá também tenha sido enterrado em Maringá, se é que morreu.

6 thoughts on “Waldomiro Baddini Neto, editor do O Diário e suspeito de ser pai do Visconde do Ingá

  1. Grande Baddini, o conheci no bar do Everaldo próximo a Tribuna do Povo em Umuarama. Ponto de encontro de trabalhadores e amantes de uma boa conversa!

  2. Acho que o Visconde do Ingá também morreu. Pelo menos vi um anúncio de falecimento no jornal ETC, mas pode ter sido sacanagem dos editores. Tomei cachaça com o Baddini nas madrugadas, depois de “fechar” a edição do O Diário, no Pingo de Ouro, quando o bar ainda era no Centro Comercial em frente a praça Raposo Tavares.

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