Alberto é daqueles meninos medrosos e a cara não nega. Com aquela cabeça imensa, óculos gigantes e aqueles olhos de quem se sente fora do mundo das pessoas “normais”, tem medo do desconhecido, do conhecido, do fracasso, do futuro, do escuro, da solidão, da prova na escola, do menino fortão que o olha torto na hora do recreio. O que ele não sabe é que seus medos são os mesmos de seus amiguinhos, dos meninos que ele não conhece, do menino fortão que o olha torto, da professora, do diretor e até de seu pai, aquele herói capaz de tudo.
Alberto é o personagem central do livro “Alberto e seus medos”, que o psicólogo José Artur Molina criou para mostrar que os medos das crianças são os mesmos que todas as pessoas já sentiram e, em alguns casos, sentem até hoje e sentirão pelo resto da vida.
O livro, publicado pelo Selo Gafanhoto da iPerfil Editora, foi lançado em dezembro de 2021 durante a Festa Literária Internacional de Maringá 2021, a FLIM, e rapidamente vendeu toda a primeira edição. No momento, “Alberto e seus medos” está sendo reimpresso e nos próximos dias volta às livrarias.
“Os medos de Alberto são os medos infantis que vão surgindo ao longo do desenvolvimento da criança”, diz Artur Molina, professor do curso de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá (UEM). “Certamente, as crianças e os adultos com capacidade lúdica ao lerem este livro vão se identificar com o Alberto, lembrar daqueles medos que pareciam grandes, mas que o tempo os transformou em pequenos medos”.
Com a experiência de muitos anos como psicólogo e professor, José Artur Molina diz que o livro pode diminuir a intensidade dos medos das crianças ao vê-los retratados em Alberto. “Com isso, não se sentirão mais sozinhas. Alberto será solidário com elas. Quem sabe, nosso leitor possa torná-los menores”.
Alberto sai da gaveta e ganha as prateleiras
Embora seja um menininho de olhos assustados e cabeça quadrada, Alberto na realidade já poderia ser um senhor. Molina construiu a personagem, definiu seus medos e escreveu o livro há mais de 20 anos, depois de uma conversa com um amigo que queria um livro que ajudasse seu filho a superar os medos comuns em qualquer criança.
Na época, embora o autor tenha imaginado o visual da personagem, não havia no texto referência de como era a aparência de Alberto. E o livro – ou melhor, o texto – ficou engavetado, foi esquecido e esquecido ficou muitos anos. Uns 20, pelo menos.
Tanto as crianças quanto seus pais logo se identificam com os sentimentos de Alberto Foto: Reprodução
Mas, antes de se aposentar como professor da UEM, Artur Molina descobriu que uma de suas alunas de pós-graduação, Gabriela da Silva de Jesus, tinha a mania de rabiscar em tudo que era papel que caísse em suas mãos. Rabiscava inclusive enquanto falava com as pessoas e mais ainda quando não falava com ninguém. Mas, não eram rabiscos quaisquer, eram traços com lógica e arte, desenhos de alto nível.
O professor ficou sabendo que Gabi sempre desenhou, mas apenas por hobby. Quando Molina bateu os olhos nos riscos, pensou: “isto não é rabisco, podem até chamar de desenho, mas eu chamo de ilustração”. E assim, a jovem psicóloga foi convidada a ler o original de “Alberto e seus medos” para ver se era inspirada a ilustrar o texto.
Deu no que deu. O Alberto que todo mundo vê hoje – inclusive o autor – é o que saiu da visão e do traço de Gabriela de Jesus. Na verdade, ela fechou os olhos e o menino apareceu, se aproximou e se apresentou, cheio de medos: “eu sou o Alberto. Você estava me procurando?”
Menino da cabeça quadrada muda vida de psicóloga
Gabriela viu um menino frágil, de corpo miúdo, cabeça enorme, óculos gigantes e olhos assustados. E viu seus medos. E viu que eram os mesmos medos dela.
A vida de Gabriela da Silva de Jesus pode ser dividida em antes e depois de ela imaginar e desenhar Alberto com sua cabeça quadrada. Antes ela era uma jovem psicóloga se aperfeiçoando cada vez mais e fazendo planos de mestrado e doutorado. Depois, a psicóloga deixou tudo e foi viver de ilustrações.
Hoje, Gabi é Ilustradora com “i” maiúsculo, decidida a trabalhar só com ilustração e a buscar aperfeiçoamento nesta profissão que inaugurou no momento em que fechou os olhos para imaginar a aparência de Alberto, o menino que carrega todos os medos.
Gabriela admite que Alberto mudou sua vida e agora aguarda convite para ilustrar outras obras Foto: Luiz de Carvalho
Primeiro, foi para a Inglaterra, criou o site www.simplesart.com.br e passou a vender ilustrações para qualquer lugar do planeta. De suas penas e seus pincéis saem mandalas, arquétipos, canecas e outras artes, o que o cliente quiser, com a vantagem de que tudo é exclusivo, único.
Feliz em suas novas atividades, Gabi diz que continua psicóloga, mas agora trabalha com o que gosta.
Alberto e os psicólogos que o criaram, Artur Molina e Gabriela de Jesus
Poder-se ia dizer que “Alberto e seus medos” seja um livro a quatro mãos, mas muita gente emprestou talento para que a obra alcançasse a qualidade que chegou aos leitores. Vale citar também o trabalho gráfico de Carlos Alexandre Venâncio e o fechamento de Andrea Tragueta, além do pessoal de retaguarda da iPerfil Editora.
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