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Dengue fora de época chega matando e obriga Estado a declarar epidemia

A infestação, que antes era típica do verão, agora tende a ocorrer durante o ano inteiro e os casos de dengue vêm aumentando exponencialmente mesmo com as quedas de temperatura

 

Luiz de Carvalho

Durante toda a semana, mesmo no feriado prolongado de Tiradentes, equipes da prefeitura de Maringá e voluntários trabalharam na limpeza de quintais, terrenos baldios e fundos de vale na tentativa de eliminar locais e objetos com potencial para receber ovos do mosquito Aedes aegypti, responsável pela transmissão das arboviroses dengue, chikungunya e zika vírus. Ações semelhantes aconteceram em outros municípios da região de Maringá e no oeste do Estado, regiões em que a infestação pelo Aedes é mais grave. Hoje o Paraná é a único Estado brasileiro que declarou estar sob epidemia de dengue, com casos registrados em todos os municípios, um aumento de casos de aproximadamente 40% e mortes, duas delas em Maringá em um espaço de pouco mais de 48 horas. O que causa estranheza é que nesta época do ano, em pleno outono, historicamente dengue não é problema.

Ao declarar estado de epidemia no Paraná, o secretário estadual de Saúde, Cesar Neves, chamou a atenção para a situação atípica. “As medidas de rastreamento e as equipes de campo já estão monitorando há algumas semanas. É completamente atípica essa sazonalidade de dengue nessa época do ano”. Segundo ele, os números mostram que o período em que os casos aumentam é durante o verão, com destaque para os meses de novembro, dezembro e janeiro, quando há muito calor e chuva, criando o ambiente propício para a proliferação do mosquito.

Segundo Neves, na semana anterior ao feriado de Tiradentes o aumento no número de casos no Paraná foi de 39,86%, com quase 6 mil novos contaminados.

O inimigo pode morar dentro de casa

Embora os números em Maringá não sejam tão maiores do que em anos anteriores, o fato de o aumento de casos estar acontecendo próximo ao inverno preocupa e obriga as autoridades a adotarem medidas emergenciais. “Mesmo nesse período de feriado prolongado, o trabalho contra a dengue continua. Estamos unindo esforços para manter a cidade livre do mosquito. Ações simples, como a limpeza constante de quintais são fundamentais”, diz o secretário de Saúde, Clóvis Mello.

O secretário alerta que todo o trabalho só terá resultado se houver a colaboração de toda a população. Segundo ele, as equipes da prefeitura podem limpar terrenos baldios e fundos de vale, mas não entram nas casas e muitas vezes os criatórios do mosquito estão no vasinho de uma planta, em um vazamento no sifão da pia, debaixo da geladeira, na água do cachorro, nos ralos. “Onde houver acúmulo de água, pode ser o local ideal para o mosquito botar seus ovos”, explica.

Essa verificação, segundo Mello, cabe ao dono da casa.

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O recepiente que guarda a água que escorre do congelador oferece condições ideais para o mosquito depositar seus ovos Foto: Divulgação

Além dos mutirões de limpeza organizados pela prefeitura, na última semana começou a ser feita pulverização com o chamado fumacê, estratégia considerada extrema devido aos efeitos colaterais, como a morte de abelhas e outros voadores presentes nas cidades. O fumacê consiste em passar um carro que emite uma nuvem de fumaça com baixas doses de um agrotóxico que elimina boa parte dos mosquitos adultos. As aplicações não afetam os ovos depositados e nem mesmo as larvas.

 

O mosquito está vencendo

Em Maringá, onde, segundo a Secretaria de Saúde há cerca de 600 pessoas com dengue, a cidade está perdendo para o mosquito. O número de contaminados cresce rápido, muitas pessoas estão perdendo dias de trabalho e duas pessoas morreram, ambas jovens e saudáveis e que não moravam em bairros com alto índice de infestação.

A professora Iara Carolina Arduin mora em uma área de baixo índice de infestação, no Jardim Brasil, mas há quase duas semanas não consegue trabalhar. Neste período, foi três vezes a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), cada vez em situação mais grave. Na quinta-feira ela sangrou pelo nariz e foi levada às pressas a um hospital.

“Dói o corpo inteiro, não consigo nem sair da cama”, diz ela. Cuidadosa, mantém seu quintal livre de ambientes com potencial para depósito de larvas e sabe que os vizinhos também fazem o mesmo.

Iara não faz ideia de em que local da cidade o mosquito a encontrou. “Eu achava que podia ter sido no CMEI [Centro Municipal de Educação Infantil] que trabalho, que fica próximo a um fundo de vale, mas os alunos e outros professores não apresentaram sintomas de dengue”.

dengue hemorrágica Daniel Barbosa Quessada

Daniel Quessada se interessava pelas discussões no campo da política e das humanidades Foto: Redes sociais

 

No dia 13 morreu a farmacêutica Giselle Ruggeri Chiuchetta, 47 anos, citologista do Laboratório São Camilo, que sofreu um AVC como conseqüência da dengue hemorrágica. Dois dias depois de Giselle Maringá perdeu o estudante de Direito Daniel Barbosa Quessada, de 20 anos e muitos projetos.

 

Cuidados contra dengue têm que ser de todos

O marido de Giselle, o maestro Marcos Geandré, não admite que os seres humanos estejam sendo derrotados por um mosquito. “Dengue é algo que a gente pode prevenir. São tantas as campanhas, mas se um cuida de manter sua casa livre do mosquito e o vizinho não fizer o mesmo, não adianta. Então, fica esse alerta para que outras pessoas não passem pela dor que estamos sentido agora”.

Algumas dicas para prevenção domiciliar

Prevenir a ocorrência das doenças tropicais exige uma mudança de comportamento, já que as ações preventivas precisam tornar-se um hábito, em qualquer período do ano.

A primeira orientação é eleger um dia da semana para verificar se há focos de mosquitos no quintal e na residência (80% dos focos estão dentro das casas), tomando os seguintes cuidados:

  • Manter caixas d’água bem vedadas;
  • Limpar as calhas, retirando folhas e objetos acumulados;
  • Manter galões, tonéis, poços e tambores bem vedados;
  • Guardar pneus, plásticos ou qualquer outro objeto que possa acumular água em local coberto, protegido contra a entrada de água;
  • Guardar garrafas e tampinhas viradas para baixo;
  • Manter ralos limpos e vedados;
  • Manter as bandejas de ar condicionado limpas e sem água;
  • Limpar o recipiente do motor da geladeira;
  • Eliminar os pratos dos vasos de planta ou enchê-los com areia;
  • Manter o vaso sanitário fechado (especialmente quando viajar);
  • Tratar a água da piscina regularmente;
  • Antes de viajar, verifique se no quintal ou na residência existem recipientes que possam acumular água e eliminá-los ou colocá-los em área coberta e protegidos contra a entrada de água;
  • Quando possível, utilizar repelentes, roupas claras e compridas (camisa de manga e calça comprida), principalmente se for visitar áreas onde é conhecido o elevado número de ocorrência de dengue, zika e chikungunya.

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