Yassunaka, o homem que ‘inventa’ novas orquídeas

Luiz de Carvalho

 

No dia em que resolveu cultivar flores para ter uma alternativa a mais em sua chácara dedicada à cultura da uva, há 20 anos, Kozo Yassunaka não imaginava que um dia as flores seriam o carro-chefe da propriedade e nem que ele seria reconhecido como um dos maiores produtores de orquídeas do Paraná, com prêmios recebidos em diferentes pontos do Brasil. Hoje ele se dedica principalmente à criação de novas orquídeas e se prepara para disponibilizar mudas para outros produtores.

Na chácara próxima ao Clube dos 30, em Marialva, Yassunaka executa todas as etapas da cultura, desde a coleta de sementes, formação de mudas, passagem para os vasos e, por fim, a comercialização. Além dos vasos que podem ser encontrados a R$ 10 ou R$ 20 nos grandes supermercados, feiras e exposições, o produtor dispõe de espécimes raros que chegam a custar milhares de reais. Recentemente ele vendeu um tipo raro de Cattleya walkeriana por R$ 5 mil a um colecionador que mora na Venezuela, conheceu a planta pela internet e não resistiu.

Amor pelas flores, bom gosto e paciência são algumas características para quem quer cultivar orquídeas, diz Kozo Yassunaka Foto: Douglas Marçal

“Este é um bom negócio e pode ser melhor quando o produtor está aparelhado para executar todas as etapas da produção”, diz ele. “É um trabalho prazeroso, mas exige muita dedicação”. Yassunaka evita falar em dinheiro, mas diz que, assim como a uva, a orquídea também tem seus bons e difíceis momentos. A propriedade, além da flor nobre, continua cultivando uva e uma parte foi destinada a uma horta cuja produção é comercializada na Feira do Produtor, em Maringá.

Nem sempre a orquídea foi a estrela da propriedade. Yassunaka, filho do casal de pioneiros Haruji e Hatsue, que chegaram quando a região de Marialva era só mata, há quase 90 anos, nasceu e cresceu em fazenda de café, foi para Curitiba estudar Engenharia Agronômica e depois passou mais de 10 anos em Minas Gerais, gerenciando fazendas de café. Foi nos morros de Minas que ele conheceu plantações de flores e ao voltar para Marialva, há 15 anos, se empolgou com o sucesso da uva.

“Comprei esta propriedade para produzir uva, mas procurei alternativas porque a uva vai muito bem em um ano, nem tão bem em outro e algumas vezes tem anos muito ruins”. Mas a orquídea virou paixão e hoje é o que ocupa o chacareiro, a mulher, Ilde, e o filho Anderson, técnico agrícola que cuida também da organização da empresa e da parte de comercialização.

Cattleya walkeriana

Hoje, os 3 mil metros quadrados de estufas ao lado da moradia dos Yassunaka alojam mais de 40 mil vasos prontos para comercialização, com variedades distintas que transformam o ambiente em um mundo de cores e formas que encantam os visitantes. “Vamos vender quando estiverem floridos”.

Para o produtor, que participa de eventos em vários Estados, um dos fatores positivos é o fato de Marialva estar transformando-se em um centro produtor de flores, com boa parte dos chacareiros cultivando rosas, crisântemos, gerbera e outras como alternativa, sem precisar abandonar a uva, que fez a fama e a economia da cidade.

 

As flores que vêm do vidro

No laboratório, a produção de mudas e a criação de híbridos são passos decisivos no trabalho de Yassunaka

Dos milhares de vasos com orquídeas grandes, pequenas, miúdas, vermelhas, azuladas, amarelas, o que mais chama a atenção de Kozo Yassunaka é um vasinho preto e envelhecido com uma planta sem flores. É que nele está uma planta resultado de cruzamento feito pelo próprio produtor, usando duas orquídeas raras no Brasil, mas que ainda não deu flor.

“Como conheço o ‘pai’ e a ‘mãe’, posso imaginar como será a filha, mas faz oito anos que plantei e ela ainda não floriu. Estou ansioso e todos os dias venho conferir se há algum sinal de floração”.

O produtor já fez vários cruzamentos e tem no berçário uma orquídea que em todo o mundo só ele tem, já que foi ele quem a ‘inventou’ e as sementes e mudas ainda não foram comercializadas.

Foi por se dar tão bem com os cruzamentos que o produtor decidiu investir na implantação de um laboratório, matrizeira e berçário. No laboratório há cerca de mil frascos germinando novas mudas. “Este é um processo lento, que exige muita paciência. Da chegada das sementes ao laboratório ao ponto de comercialização vão sete ou oito anos”.

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