Primeiro jogo noturno de Maringá foi na Vila Operária, na lama e no escuro

Luiz de Carvalho

Ainda nos primeiros anos da década de cinquenta do século passado, quando Maringá crescia a olhos vistos, com a chegada de dezenas de famílias a cada dia e parecia um canteiro de obras, com a construção de casas e mais casas, foi realizada a primeira partida noturna de futebol da história da cidade e, possivelmente, do Paraná.

Diferentemente do que se possa imaginar, ela não aconteceu no Estádio Willie Davids, que ainda nem existia, mas no Brinco da Vila, campo de futebol da Vila Operária, que na época não tinha status de estádio e nem nome.

Iracy Mochi foi um dos jogadores da desastrada e histórica partida de futebol

O evento está bem vivo na memória do empresário Iracy Lúcio Mochi, proprietário da Imobiliária Paiaguás, um dos primeiros moradores da Operária e dos primeiros a bater bola no campo de terra batida em meio a um matagal.

Os fatos que cercaram a histórica partida não têm mesmo como serem esquecidos, mas Mochi tem um motivo especial para guardá-lo na memória: foi o primeiro jogo do Operária em que ele atuou como titular.

“Foram instalados os refletores, mas vale destacar que na época a cidade ainda não tinha energia elétrica confiável”, lembra. A luz era produzida por grupos geradores e as lâmpadas eram fraquíssimas, “não clareavam nada”, tanto que na época eram chamadas de ‘tomates’.

“Pegaram umas folhas de zinco, daquele de fazer calhas, fizeram uns tubos, instalaram lâmpadas por dentro e colocaram no alto de estacas”, lembra.

A partida de inauguração da iluminação foi em um sábado à noite. “Convidaram o São Paulo de Londrina, um dos times mais importantes do interior do Paraná nas décadas de 50 e 60, para jogar contra o Operário e o campo se encheu de gente, talvez não para assistir ao jogo, mas para conhecer a badalada iluminação”.

Time do Operária que disputava o Campeonato Amador na década de 1960 – Foto doada por Léo de Paula e Silva ao Museu Esportivo de Maringá

Mas, nem tudo saiu perfeito. Aliás, nada deu certo. “Só na hora do jogo é que fomos descobrir que a iluminação não clareava nada, os jogadores não viam onde estava a bola e a torcida não enxergava nem os jogadores, de tão escuro que estava”. Iracy da Paiaguás ri ao lembrar que choveu muito naquela noite e os respingos da chuva faziam queimar as lâmpadas quentes, além disto, como o campo era de terra, e a terra roxa de Maringá gruda mesmo, as chuteiras ficavam pesadas de tanto barro e a bola virava uma bola de barro. “O João Segura, que era o presidente do time, toda hora vinha com um balde lavar a bola”.

É fácil lembrar da experiência do primeiro jogo noturno da história de Maringá. Difícil é lembrar qual foi o resultado do jogo.

 

A vila no mato

Quando Iracy Mochi chegou à Vila Operária o bairro começa a ser ocupado pelas primeiras casas, todas de madeira. A família de Itápolis (SP) foi atraída pela fama da terra roxa, onde se-plantando-tudo-dá. O lugar destinado pela Companhia Melhoramentos para a criação do bairro que abrigaria os operários, ainda estava coberto de mato e o pai de Iracy, João Mochi, construiu a casa no meio do mato.

A igreja São José Operário foi construída onde havia um campo de futebol usado pelos trabalhadores e seus filhos

A vila ainda não tinha sua famosa igreja católica, a São José e nem escola. As crianças seguiam por caminhozinhos no meio do mato para estudar na Escola Oswaldo Cruz, por caminhozinhos no meio do mato chegavam aos campinhos de futebol que existiam em vários lugares, entre eles o principal, onde foi criado o Brinco da Vila.

Iracy cresceu na Operária, viu o matagal dando lugar a casas e mais casas, os caminhozinhos virarem ruas, o comércio chegando. Já rapazote, viu Maringá deixar de ser distrito de Mandaguari e quando o primeiro prefeito, Inocente Vilanova, também da Operária, tomou posse, ele foi trabalhar na prefeitura, tendo sido um dos primeiros servidores municipais. Depois foi bancário, gerente do Bradesco, até se estabelecer no ramo imobiliário.

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