Aos 87 anos, quase 70 deles vividos em Maringá, o jornalista se diverte contando na internet histórias que seu aguçado senso de observação arquivou na privilegiada memória
Luiz de Carvalho
A história da Imprensa escrita de Maringá pode ser contada tendo o jornalista, escritor, poeta e professor Antonio Augusto de Assis como fio condutor. Ele participou da Redação de O Jornal de Maringá, o primeiro da cidade, passou pela Tribuna, mais 10 anos na Folha do Norte, esteve no O Diário e agora publica coluna diária no Jornal do Povo, o nome atual daquele que foi o primeiro jornal da cidade. E mais: quase toda sua produção intelectual está na Internet, um meio inimaginável na época em que ele viu seus primeiros textos no papel jornal.
“… aquela poeira colorida com cheiro de vida; aquela gente apressada passando nas ruas com suas botas e chapéus de palha; caminhões puxando madeira; jipes trotões levantando redemoinhos; de noite o tuque-tuque dos motores de luz, e eu ali no meio, um fluminense romântico fascinado pela chance de mergulhar na aventura do pioneirismo”
Assis nasceu em São Fidélis, Rio de Janeiro, e chegou em Maringá em 1955 para gerenciar uma lojinha de peças para automóveis comprada por seu irmão e um cunhado. Por ter migrado para uma profissão em que a observação é uma obrigação, viu praticamente tudo o que aconteceu na cidade nos últimos 65 anos. “Vim de lugares antigos, encontrei aqui uma cidade nascendo. Misturou tudo na cabeça: a sensação de que eu havia entrado de penetra num filme de faroeste; sonhos de rapaz vendo o futuro abrir-se à sua frente; aquela poeira colorida com cheiro de vida; aquela gente apressada passando nas ruas com suas botas e chapéus de palha; caminhões puxando madeira; jipes trotões levantando redemoinhos; de noite o tuque-tuque dos motores de luz, e eu ali no meio, um fluminense romântico fascinado pela chance de mergulhar na aventura do pioneirismo”, escreveu na crônica “O melhor lugar do mundo”.
A.A. de Assis, como costuma assinar, é do tipo de pessoa que escreve por necessidade, tanto que boa parte do todo que escreveu não tinha fins financeiros, como seus poemas e trovas que já lhe renderam vários prêmios de âmbito nacional. E não foi por dinheiro que aproximou de O Jornal e começou a escrever poemas, crônicas, também notícias. Com o tempo descobriu que poderia viver da escrita e tornou-se profissional.
O período em que Assis foi mais jornalista do que poeta foram os 10 anos em que assumiu a direção da Folha do Norte do Paraná, jornal fundado pelo bispo dom Jaime Luiz Coelho e arrendado pelo empresário Joaquim Dutra, sócio proprietário da Rede Paranaense de Rádio. Assis já trabalhava com Dutra na Rádio Cultura e foi seu parceiro no comando do jornal.
Quando Dutra fundou O Diário do Norte do Paraná e decidiu levar com ele a equipe da Folha, Assis preferiu ficar e dividiu o comando do jornal do bispo com Jorge Fregadolli e Silvio Iwata, permanecendo mais três anos.
Como aposentado, não precisa mais ser assíduo nas redações de órgãos de imprensa, mas não consegue ficar longe. Hoje ele tem espaço diário no Jornal do Povo, também conhecido como Jornal do Verde, e o artigo do dia vai também para o blog angelorigon.com.br. Mas, uma busca no Google mostra textos de Assis em publicações que ele nem sabia.
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Um comentário sobre “A. A. de Assis, o poeta que fez do prazer de escrever sua profissão”